31 de janeiro de 2012

Chatushpadasana

Postura do Quadrúpede
[catuSpAdAsana]
de Flávia Venturoli Miranda
2008

chatush [catuS] – 4 
pada [pAda] - pé, perna 
chatushpada [catuSpAda] – quadrúpede

Aprendi a fazer essa postura com o nome de chatushpada [catuSpAda] – quadrúpede, mas sinceramente, não consegui achar a referência bibliográfica do nome dessa postura. Popularmente, chamamos de postura do gatinho ou de gato-cavalo, pois se assemelha ao gato arrepiado e um cavalo velho, com as costas seladas.
Os 4 apoios que nomeiam a postura, torna-a plenamente estável. Tanto é que o yantra do elemento mais sólido e firme, a terra, é um quadrado, como se vê no chakra muladhara [mUlAdhAra cakra]. 
muladhara chakra
Assim, nesse asana estável, o tronco não precisa se esforçar como quando na vertical. Por isso, esse asana é indicado para quem tem dores nas costas, principalmente, se apenas arquear a lombar para cima (e não para baixo), já que provoca um bom alongamento dos músculos que sustentam a coluna lombar. Desse modo também é indicado para grávidas.

Nessa posição permanecemos como nossos ancestrais evolucionários, ou seja sobre 4 pernas, o que é um alívio da constante trabalho da coluna e da musculatura do tronco, que luta contra a gravidade constantemente para podermos manter o prumo.

O movimento consciente da coluna, acrescido do sincronismo com a respiração, centra a mente, aquieta a respiração, aumenta a mobilidade da coluna, prepara o corpo para outras posturas. Ao fazê-la é possível perceber praticamente toda a coluna, desde a base até a cervical.


Notas Pessoais
: tenho um leve desvio na coluna torácica, que ao fazer a chatuspadasana, consigo ter consciência nítida no momento em que movimento essas vértebras, assim posso trabalhar para que esse jogo da coluna para o lado não aconteça.

Variações:
Na tradição de do Swami Sivananda, o nome dessa postura é justamente isso, marjaryasana
[mArjArI Asana] – postura da gata e é chamada de vyaghrasana [vyAgrhrAsana] – postura do tigre, quando uma perna é elevada para trás (com joelho flexionado). Na tradição do Krishnamacharya é chamada de chakravakasana [cakravAkAsana] com inúmeras variações.
 
Fonte:
A Terapia do Yoga – A. G. Mohan e Indra Mohan – Pensamento
Coração do Yoga – T.K.V. Desikachar – Jaboticaba
The Viniyoga of Yoga – T.K.V. Desikachar - KYM
Yoga para o Corpo, a Respiração e a Mente – A. G. Mohan – Pensamento
Yoga Terapia – Nilda Fernandes

28 de janeiro de 2012

Relacionamento da Mente com a Alma

Vacaspati Mishra
Vacaspati Mishra
'Como o chefe da aldeia cobra o aluguel dos chefes das famílias e
o entrega ao chefe do distrito,

que o passa ao superintendente-chefe, que o passa ao rei,
assim também os órgãos dos sentidos,
ao perceber um objeto externo, o passa à mente,
que o analisa e o passa ao ego,
que se apropria dele e o passa à inteligência, o superintendente-chefe de todos.
Assim, dizem que "eles entregam isto à inteligência,
[que por meio disso] ilumina o propósito da alma".'
Comentário de Vacaspati Mishra,
sobre Sankhya Karika.36
 

24 de janeiro de 2012

Madhyam Pranayama

Respiração Média Consciente
[madhyAM prANAyAma]
de Flávia Venturoli de Miranda
2012
madhyam [madhyAM] - médio, meio
pranayama [prANAyAma] - controle do prana [prANa], 4ª parte descrita pelo Patanjala Yoga Sutra


A Respiração Média é feita com as costelas falsas (a 8ª a 10ª) articuladas indiretamente com o externo e com as 2 flutuantes (11ª e 12ª) que não se prende ao externo. Nessa região reside o coração do lado esquerdo, por isto há lóbulo médio apenas no pulmão direito, contudo o lóbulo superior do pulmão esquerdo (na divisão língula) se estende até essa região. A inspiração da região mediana se faz principalmente pela ativação dos músculos intercostais que se contraem e elevam as costelas, expandindo a caixa torácica. Ao exalar, essa musculatura e a diafragmática relaxam, diminuindo a caixa torácica, expelindo o ar dos pulmões.

Aqui a capacidade pulmonar é maior que do que na respiração alta, pois a região média é maior (mesmo tendo parte ocupada pelo coração), além da grande amplitude do movimento das costelas. Essa respiração massageia o coração, que se encontra no meio dos dois pulmões, e o estômago, que se encontra logo abaixo do diafragma. É possível sentir a respiração mediana desde o peito, na lateral como nas costas.
Vibhagya Pranayama conduzido por Masteji Viswanath
A maior capacidade respiratória torna possível respirações mais lentas e amplas. Ao fazer a Respiração Média Conscientemente, Madhyam Pranayama, induz ao relaxamento parcial, sobretudo quando a exalação é vagarosa e contínua. O que é um ótimo preparo para o domínio da Respiração Completa Consciente, Mahat Pranayama.

Porém a capacidade da respiração média ainda muito menor do que na respiração baixa que utiliza principalmente o diafragma.

Veja também:
Respiração Alta Consciente - Adhyam Pranayama
Respiração Baixa Conscinete - Adham Pranayama
Respiração Completa Consciente - Mahat Pranayama


19 de janeiro de 2012

Adhyam Pranayama

Respiração Alta Consciente
[adhyaM prANAyAma]
de Flávia Venturoli Miranda
2012
adhyam [ adhyaM] - de cima, acima, ansiedade
pranayama [prANAyAma] - controle do prana– 4ª parte descrita pelo Patanjala Yoga Sutra [pAta~njala yoga sUtra]

A Respiração Alta usa a parte superior dos pulmões para respirar. Também é chamada de Respiração Clavicular, pois enche os lóbulos que estão logo atrás das clavículas.A capacidade pulmonar dessa faixa respiratória é pequena, já que o ápice da caixa torácica é estreito.O lóbulo superior é pequeno no pulmão direito e no ápice do pulmão esquerdo. Aqui, a respiração é superficial, curta e rápida, que conduz ao um estado de ansiedade.

Contudo, ao torná-la consciente, amplia-se sua capacidade e ela fica mais lenta, levando ao um estado de relaxamento e passa a ser o Adhyam Pranayama,. Deste modo, prepara-se para a prática da Respiração Completa Consciente, Mahat Pranayama.

Para a execução do Respiração Alta, usa-se músculos do pescoço, esternocleitomastóide e o escaleno, juntamente com os intercostais, que ativam as costelas verdadeiras. Embora as costelas estejam atadas tanto coluna como no esterno, há uma pequena mobilidade para o alto e para os lados. Ao fazer a respiração consciente, as sete primeiras costelas se elevem e é possível sentir a respiração desde o alto do peito, nas axilas até as escápulas.
Vibhagya Pranayama conduzido por Masterji Viswanath
Esse pranayama ainda não usa a totalidade do pulmão, mas é possível estimular essas células pulmonares a terem um melhor desempenho.

Veja também

16 de janeiro de 2012

Gurus de Dattatreya

Shri Dattatreya Avaddhuta

Dattatreya
 Dattatreya foi o primeiro guru de todas as linhagens yogis, a primeira manifestação humana de Shiva, a época de seu aparecimento é remota nos tempos longínquos de milênios. Dizem que nunca abandonou o seu corpo e pode ser visto no sul da Índia próximo às montanhas Malayas, no pico de Arunachala e suas cercanias pelos afortunados, ainda mesmo nos dias atuais. Possuía quatro cães e uma vaca branca como companhia, era um ecologista nato e um de seus dizeres era:
"Podemos permanecer ignorantes,
destruindo e saqueando a natureza ou aprender com ela e
descobrir a sua essência divina".
Foi autor de importantes escrituras yogis, a mais importante: Avaddhuta Gita


Os 24 Gurus de Dattatreya

Dattatreya era absolutamente livre de intolerância ou preconceitos de qualquer tipo.
Ele aprendia a sabedoria de qualquer fonte que viesse.
Todos os que buscam a sabedoria devem seguir o exemplo de Dattaterya.

Uma certa vez o rei Yadu avistou Dattaterya que estava caminhando alegremente pela floresta. Ao ver tamanha felicidade, Yadu perguntou a Dattatreya o nome de seu Guru. Dattatreya por sua vez disse a Yadu: Somente Atma (o absoluto) é meu Guru, porém obtive a sabedoria de 24 mestres, logo estes são o meus Gurus.

1.        Meu primeiro mestre foi a Terra. Com ela eu aprendi ter paciência, ser amoroso e a gostar de todas as pessoas, pois ela suporta cada ofensa que o homem comete em sua superfície e mesmo assim, lhe faz o bem ao produzir os frutos e grãos. Enquanto mantiver este ponto de vista, o feito das pessoas me parecerá normal.
Prithivi - Terra
2.        Meu segundo mestre foi à Água. Ela limpa e purifica tudo o que toca, e sacia a sede de todos que dela bebem. Para se manter pura, a água deve correr livremente. A água me ensinou que minha energia não deve ficar estagnada e por isso devo me manter em constante movimento.
Apas - Água
3.        Meu terceiro mestre foi o Fogo. Tudo o que o fogo queima é transformado em luz e calor. Observando o fogo me lembro de absorver tudo o que a vida me apresenta e a transformá-la em chamas de sabedoria. Esta chama ilumina minha vida que resplandece com os esplendores de meus conhecimentos e pode aquecer aqueles que estão próximos a mim.
Agni - Fogo
 4.        Meu quarto mestre foi o Ar. O ar está sempre se movendo através de vários objetos, mas ele nunca se apega a nenhum deles. O vento que o ar provoca acaricia as flores e os espinhos da mesma maneira. Com o ar eu aprendi a não ter apego, a não discriminar ninguém e levar frescor a todos.
Vayu - Ar
5.        Meu quinto mestre foi o Espaço. O espaço permeia o sol, a lua, as estrelas e apesar de tudo estar contido no espaço,ele permanece ilimitado. Com ele eu aprendi a abarcar tudo sem me afetar e que todas as coisas visíveis e invisíveis tem o seu devido lugar, mas não tem o poder de confinar a minha existência.
Akasha - Espaço
 6.        Meu sexto mestre foi a Lua. A lua é em si mesma completa, mas parece crescer ou minguar, de acordo com a sombra da terra, que varia, por sobre ela, mas a sua essência permanece intocada. Enquanto eu observo a lua, aprendo que dor e o prazer, os ganhos e as perdas são simplesmente fases da vida, assim, enquanto eu passo por elas, devo permanecer consciente do meu verdadeiro Eu.
Chandra - Lua
7.        Meu sétimo mestre foi o Sol. O sol reflete em diversas superfícies de água, diferentes formas de reflexões, retira a água de todos os lugares, transforma-a em nuvem e a devolve em forma de chuva. Com o Sol, aprendi a absorver o conhecimento de todas as coisas, transformá-las em sabedoria e a compartilhá-los com todos.
Surya - Sol
8.        Meu oitavo mestre foi um Pavão. Aprisionado na rede de um caçador, o pavão gritou desesperado atraindo seus companheiros que procuraram resgatá-lo e também foram aprisionados. Com ele aprendi que toda e qualquer reação ligada ao apego e a emoção é uma armadilha. Sempre penso duas vezes antes de agir sob uma emoção superficial, especialmente se a ação nascer de uma identificação com o próprio grupo.
Mayura - Pavão
 9.        Meu nono mestre foi a Cobra. A cobra, contenta-se com a presa que captura e fica deitada por algum tempo sem procurar por mais comida. Com a cobra, aprendi a não me preocupar com comida, a me contentar com que tenho e a me aquietar quando satisfaço minhas necessidades sem correr atrás dos objetos de meus desejos.
piton
10.     Meu décimo mestre foi o Oceano. O oceano permanece imóvel mesmo que centenas de rios desemboquem nele. Com o oceano aprendi a permanecer imóvel entre os diversos tipos de tentações, dificuldades e problemas.
oceano
11.     Meu décimo primeiro mestre foi a Mariposa. A mariposa, sendo atraída pelo brilho da chama, voa de sua morada para seu sacrifício na luz. Com ela, aprendi que uma vez que vejo a aurora, mesmo sendo um pequeno clarão à distância, devo superar meu medo e deslocar com toda a determinação em direção ao fogo consumidor que irá tornar-se conhecimento e iluminar minha mente.
mariposa
12.     Meu décimo segundo mestre foi a Mamangava. Antes de pegar a menor quantidade de néctar, ela zumbe, faz volteios e dança criando uma atmosfera de alegria. Ela dá muito mais do que recebe, porque como agente da polinização assegura que haverá flores na estação vindoura. Com ela, aprendi que devo apanhar somente um pouco da natureza e a ficar contente e satisfeito, enriquecendo em vez de destruir aquilo que me sustenta.
mamangava - abelhão
13.     Meu décimo terceiro mestre foi a Abelha. As abelhas coletam o néctar arduamente de diferentes flores para transformá-lo em mel e armazena-o em favos que são compartilhados com outras espécies. Com ela aprendi que devo colecionar os ensinamentos de cada disciplina e processos de conhecimento que recebo e aplicá-los para poder crescer e não acumular nada, compartilhando tudo o que sei com os outros.
abelhas trabalhando
14.     Meu décimo quarto mestre foi um Elefante Macho Selvagem. O caçador de elefantes levou uma fêmea, no cio, a uma floresta. O elefante sentiu-se fortemente atraído, e em sua busca pela fêmea, caiu dentro de uma armadilha coberta por folhas.Ele foi então capturado, acorrentado, torturado e domesticado pelo caçador. Encantos mundanos e sensações sensoriais estimulam os sentido e quando corremos atrás de prazeres sexuais, a mente é aprisionada e escravizada. Com o elefante aprendi a controlar minhas paixões e meus desejos.
elefante
15.     Meu décimo quinto mestre foi o Cervo. O cervo tem o sentido da audição apurado e responde ao som instantaneamente, discriminando-o quando o som lhe parece inofensivo, porém é seduzido, hipnotizado pelo som de flauta do caçador e capturado. Com ele aprendi que também mantemos os ouvidos aguçados e somos cépticos com algumas coisas que ouvimos, mas às vezes ficamos fascinados por certas palavras que nos atraem porque aguçam nossos desejos e apegos, essa peculiaridade cria tanto sofrimento para nós quanto para os outros.
cervo
16.     Meu décimo sexto mestre foi o Peixe. Assim como o peixe é cobiçado pela comida e é vítima fácil de uma isca, o homem que é ganancioso por comida, e permite que seu sentido da gustação o domine, perde sua independência e é facilmente arruinado. Com o peixe aprendi a ter discernimento ao me alimentar.
peixe
17.     Meu décimo sétimo mestre foi uma Cortesã chamada Pingala na cidade de Videha que não amava, nem era amada por nenhum de seus clientes além de não se sentir satisfeita com o dinheiro que recebia.Uma noite, cansada e sem esperanças, decidiu permanecer contentada com o que tinha e dormiu suavemente. Eu aprendi desta mulher caída, a viver com dignidade e autorrespeito, que o melhor lugar para eu encontrar o amor e a minha própria satisfação é dentro mim mesmo, que não devo esperar nada deste mundo e que às vezes, o abandono de esperanças nos leva ao contentamento.
Pingala, a cortesã
18.     Meu décimo oitavo mestre foi um Corvo. O Corvo pegou um pedaço de carniça, foi perseguido e surrado por outros pássaros que também queriam aquele pedaço. Ele deixou o pedaço de carniça cair e então obteve paz e descanso. Disso, aprendi que quando corremos atrás da satisfação dos nossos sentidos, passamos por todos os tipos de problemas e desgraças, e que o segredo da sobrevivência está na renuncia e não na posse.
corvo
19.     Meu décimo nono mestre foi o Bebê que com saúde, só chora até que consiga sugar o leite materno, é livre de todas as preocupações, ansiedades e está sempre alegre. Com ele aprendi estar sempre satisfeito e exigir somente o que realmente necessito.
20.     Meu vigésimo mestre foi uma Jovem Donzela. Os pais dessa jovem, saíram em busca de um pretendente apropriado para ela. A garota estava sozinha em casa. Durante a ausência dos pais, uma comitiva de pessoas foi até a casa com o mesmo propósito. Ela mesma recebeu a comitiva. Ela foi para dentro para debulhar o arroz com casca e alimentar a comitiva. Enquanto ela estava debulhando,seus braceletes tilintaram um ruído estridente. E sábia garota então refletiu: "A comitiva irá perceber, pelo barulho dos braceletes, que eu estou debulhando o arroz sozinha e que minha família é muito pobre para contratar outros para ter o trabalho feito." Então ela tirou um por um dos braceletes, somente quando restou um em cada mão é que houve o silêncio e então ela prosseguiu o debulhar. Eu aprendi da experiência desta garota que onde houver uma multidão, haverá ruídos que podem gerar discórdias, perturbações, conflitos ou brigas. A Paz só advém na solidão.

21.     Meu vigésimo primeiro mestre foi a Serpente. Uma serpente não constrói o seu buraco. Ela habita os buracos que outras criaturas abandonaram ou se enrola em buracos de árvores por algum tempo e depois se muda. Com ela aprendi a ajustar o meu meio ambiente e a usufruir o que a natureza me oferece sem construir uma morada permanente. Enquanto flutuo no fluxo da natureza encontro vários lugares para descansar e uma vez recuperado, prossigo meu caminho em paz.
cobra ihoa
22.     Meu vigésimo segundo mestre foi um Artesão que estava totalmente focado em afiar e planar uma flecha. Enquanto ele estava engajado neste trabalho, um rei passou em frente ao seu estabelecimento com toda sua comitiva. Após algum tempo, um homem veio até o artesão e perguntou-lhe se o rei havia passado por sua loja e o artesão respondeu que não havia percebido nada. O fato era que o a mente do artesão estava unicamente absorta em seu trabalho e então ele não notou a passagem do rei em frente a sua loja. Eu aprendi deste artesão à qualidade da intensa concentração da mente e que devo me concentrar na obra que estou executando no momento, seja ela grande ou pequena. Quanto mais dirigida a minha atenção, maior a minha absorção e quanto maior esta for, mais profundo conseguirei compreender o objetivo da existência.

23.     Meu vigésimo terceiro mestre foi a Aranha. A aranha produz de sua boca longos fios que tece em uma teia e ela mesma acaba presa na teia que teceu. Com isso observei que o homem constrói uma teia de suas próprias idéias e fica emaranhado nelas. A verdadeira segurança não está nas complicadas formas de ação, mas na absorção única no presente.
24.     Meu vigésimo quarto mestre foi um pequeno Verme que uma ave canora pegou e levou para o ninho. Antes de saborear o verme, a ave começou a cantar, o verme encantou-se pela melodia e esqueceu-se do perigo. Se este pequeno verme, pode, ser transportado por um canto e ultrapassar o curso do tempo pela melodia, eu também desenvolverei a arte de poder me deixar absorver no Nada ouvindo o som divino que está dentro de mim.
 
Dattatreya dizia que o mundo era um ashram, 
que os ensinamentos estão por toda à parte. 
Podemos aprender sempre qualquer coisa que contemplamos, 
ou de qualquer pessoa que cruze o nosso caminho, 
contanto que tenhamos desenvolvido um agudo interesse pelo saber, 
com forte determinação para apreender o que for útil e 
ignorar o desnecessário para nossa evolução espiritual.

O Rei Yadu ficou imensamente impressionado pelos ensinamentos de Dattaterya,
abandonou o mundo e praticou constante meditação no Ser.

Saiba mais sobre Dattatreya no:  

13 de janeiro de 2012

Mahavidya Yoga, um lugar aconchegante

O Mahavidya Yoga é um espaço intimista e aconchegante em um sobrado geminado típico do Ipiranga.
Mahavidya Yoga
Rua Dona Leopoldina 239 - Metro Alto do Ipiranga

O bairro é deliciosamente arborizado. Nesse mês de janeiro estão florindo as Chuvas-de-ouro, Paus-ferro, Caesalpinias e outras tantas amarelinhas. São tantas florzinhas amarelas que realmente parece que Lakshmi, a deusa da prosperidade, passou distribuindo moedas de ouro.
Chuva de Ouro - Rua Dona Leopoldina - Ipiranga
Da janela da sala de aula, se vê as flores do Pau-ferro.
Pau-ferro em flor - jan.2012  
Vamos entrar e conhecer alguns detalhes do Mahavidya Yoga, que está cheio de mimos (presentes de pessoas queridas).

Tomamos chazinho com bolachas. As vezes, também há os bolos e pães-de-mel da Profª Silvia. (O dessa semana foi bolo de castanha-do-Pará com hortelã. HUUUUMMMM!!!!! ) Os mimos ficam por conta da bela moringa de vidro pintado, os porta-sachês de chá, a toalha bordada com "Ahmisa", a caixinha com o Sol em vitral.
Nota: Ahimsa é o preceito de não ser violento. Leia mais sobre os Yamas.
cantinho dos comes e bebes
Na mesa da recepção, estamos protegidos pelo grande Ganesha de "Liliput", o deus que tira os obstáculos, (que recebe, semanalmente, flores de uma devota). Os outros mimos são a flor de crochê da devota, o potinho da Durga, o vaso com flores de cerâmica regadas com aroma de maracujá e obviamente o calendário feito sobre medida para tia coruja.
No nosso painel de avisos, a família Shiva, deus da transformação, está apresentando o tempo no calendário.
A escada é a nosso "caminho para o céu" pelos bija-mantras dos chakras de cerâmica que enfeitam a subida para a sala de aula. Assim, do terroso Lam subimos ao transcendental Om para chegar ao nosso Yoga.
Escada para o Céu
Vou parar por aqui, depois apresento os outros mimos. Só faltou apresentar as professoras.
Profª Flavia
Blog Yoga das Grandes Sábias
Profª Silvia
Blog Om Yoga
Aguardamos sua visita 
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2ª e 4ª com a Profª Silvia 11 8364-2688
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19:15
19:00
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20:30

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Conheça nosso site. www.yoga.fwmartes.com.br

10 de janeiro de 2012

Mahat Pranayama


Respiração Completa Consciente
[mahat prANAyAma]
de Flávia Venturoli Miranda
2012
mahat pranayama “respiração completa consciente”, grande controle do prana [prANa]
mahat [ ] – grande, melhor, longo, mais importante
pranayama [prANAyAma] – controle do prana – 4ª parte descrita pelo Patanjala Yoga Sutra [pAta~njala yoga sUtra]

No dia a dia, subutilizamos nosso suprimento de energia vital. Respiramos em média 500 ml de ar, quando poderíamos usar pelo menos mais 3 litros. Ficamos vitalmente desnutridos. A respiração completa é usar a totalidade da capacidade respiratória, enchendo e esvaziando todo o pulmão. 

Para a respiração se tornar um pranayama é necessário fazê-la consciente. A respiração completa requer treino. Começa-se treinando cada faixa respiratória individualmente (alta, média, baixa) por algumas semanas, até dominá-las. Só assim inicia-se o treino da respiração completa. O ideal é a aprender as práticas respiratórias com supervisão de um professor.

Os sábios indianos descobriram a ligação da respiração com a mente. A respiração reflete o estado da mente. Se a mente está agitada, ansiosa, a respiração será curta, alta, entrecortada. Se a mente está tranquila a respiração é longa, completa e contínua. Notaram, também, que ao alterar o padrão respiratório se pode mudar o estado mental. Assim, fazer a respiração completa é bom para o corpo e ótimo para mente, pois energiza o corpo e aquieta a mente. Quando a respiração completa é feita conscientemente, ela se potencializa, melhora em quantidade e principalmente em qualidade, então passa a ser o Mahat Pranayama.

Segundo a tradição do Swami Gitananda, o Mahat Pranayama, o grande controle do prana,  é o que chamamos de respiração completa, ou seja, consiste em inspira:
  • levando o ar para parte inferior do pulmão – respiração abdominal, adham pranayama [AdhAM prANAyAma],
  • depois, preencher a parte mediana do pulmão – respiração média, madhyam pranayama [madhyAM prANAyAma] e
  • por fim, preencher a parte alta do pulmão – respiração alta, adhyam pranayama [adhyaM prANAyAma].
Solta-se o ar na mesma ordem, isto é, debaixo para cima. Mahat Pranayama é feito sempre de forma fluída, tranquila e alongada.

Veja também:
Respiração Alta Consciente - Adhyam Pranayama
Respiração Média Consciente - Madhyam Pranayama
Respiração Baixa Consciente - Adham Pranayama

4 de janeiro de 2012

Kapalasana


Postura do Crânio
[kapAlAsana]
de Flavia Venturoli Miranda
2008

 kapala [kapAla] – crânio, vaso de oferenda
Crânio
modelagem de Aline Leles
Kapala, vaso de oferenda
 O crânio, na maioria das culturas, representa a morte, o fim da existência corpórea. A inexorabilidade da morte é fator de medo, angustia e reflexões. Não à-toa Shakespeare filosofa em Hamlet que segura um crânio e diz: “To be or not to be. That is the question.” 
Hamlet: To be or not to be.
Na Índia, os kapalikas [kApAlika], uma seita ascética tântrica [tAntrika], cultuam Shiva Kapali [shiva kapAli] como o transformador radical de morte e renascimento. Suas práticas de tapas [tapas] são bastante radicais e visam lidar com equanimidade as abjeções da manifestação, por isso, as vezes, moram e meditam em cemitérios. Não raramente usam crânios como suporte para seus alimentos. Assim como faziam os vikings, ao usarem como canecas.
Kapalika - Aghor

O crânio como receptáculo do encéfalo, também remete a morada da mente, do intelecto e da noção de eu, o que no Samkhya [sAMkhya] é chamado de órgãos internos, antahkarana [antaHkaraNa]. A deusa Kali [kAlI] usa uma girlanda de cabeças, ou de crânios que representam as ignorâncias estirpadas.
Kali e seu kapalamala
Antropologicamente, há quem diga que o fato de evoluirmos de quadrúpede para bípede, elevou nossa cabeça a um outro plano de percepção. Que as necessidades das savanas, nos obrigaram a olhar mais longe, culminando na escolha dos mais aptos para a sobrevivência nessa nova realidade. Esse mudança estrutural do corpo, permitiu um aumento da capacidade encefálica, possibilitou uma nova acomodação das cordas vocais (permitindo a linguagem falada), e principalmente libertou, nossas principias ferramentas de linguagem e de transformação do mundo, as mãos. 

 A posição privilegiada do encéfalo e o aumento do intelecto, tornou, contudo, a espécie mais prepotente. Costumamos dizer que “o sucesso subiu pra cabeça”, que fulano “está com a cabeça erguida”, que sicrano “não abaixa a crista por nada”. 

namaskara

O ato de curvar-se em saudação, namaskara [namaskAra], é um ato de humildade. A postura, cujo crânio toca o solo, é um treino de humildade, de diminuição da arrogância intelectual. O altivo crânio toca o mundano chão. Isso o põe numa dimensão mais humana e temporal, o que leva (a meu ver) a reflexão sobre a duração da existência, por isso é comum também o medo nessa postura. 
Ser humilde e mortal provoca medo e é um bom trabalho buscar o equilíbrio para ambos, a kapalasana pode ser uma opção para esse trabalho. 


 
 Importante:
Segundo Desikachar, é essencial que o yoga seja adaptado a cada um, viniyoga
(yoga sUtra III.6). Para isso é importante, que para essa postura, que lida com aflições primordiais como medo da morte, abhinivesha [abhinivesha] (yoga sUtra II.9), seja respeitado não só a preparação física de fortalecimento de músculos, mas também a preparação psicológica para alcançar tal postura. 

Variações:
Iyengar chama essa postura de shalambashirshasana
II [sAlamba shIrSAsana] – a postura do suporte sobre a cabeça e faz parte de um ciclo de posturas com o apoio sobre a cabeça, com inúmeras variações.

Na tradição do Yoga Narayana, costumamos treinar primeiramente com a postura chamada de delfim onde a posição da cabeça e das mãos são as mesmas dessa versão, mas não se retira o pés do solo. Apenas, se caminha em direção a cabeça, se retifica a coluna e assim se permanece. Depois se pode treinar próximo a parede para ganhar confiança, que na hora do equilíbrio serve de apoio. Há também a versão da kapalasana, cujo joelhos se apóiam sobre os braços, quando essa está dominada, completa-se a postura elevando as pernas. 

Conforme a tradição, apóia-se a mão de uma maneira: uns deixam mãos de forma que os dedos apontam para a cabeça, outros são os punhos que apontam para cabeça, outros ainda os punhos apontam para cabeça mas as mãos são voltadas para fora. 
 
Fonte: salambashirshasana [sAlamba shIrSAsana]
- Light on Yoga – B.K.S. Iyengar
- Coração do Yoga – T.K.V. Desikachar – Jaboticaba Fonte histórica:

Segundo a Encyclopaedia of Tradicional Asanas – Dr. M. L. Gharote – Lonavla, kapalasana
[kapalAsana] com as pernas elevadas e kuhi asana [kuhI Asana], cujas canelas os apóiam ao longo dos braços, aparecem num manuscrito do haThapradIpikA ou siddhAnta muktAvalI II.158 e II.129 respectivamente