11 de outubro de 2015

Ave Kali

Kali by Brolo
Ave Kali ,
Cheia de ananda,
Mahadeva é convosco,
Bendito sois Vós entre as devis
Bendito seja o phala de Vossa yoni
Shri Kali, grande mãe,
Rogai por nós,
Agora e sempre.
Jaya Kali Ma

Hail Kali,
Full of Ananda,
Mahadeva is with Thee.
Blessed art Thou among the devis,
And blessed is the phala
Of thy yoni,
Shri Kali,
Great Mother,
Pray for us
Now and always
Jaya Kali Ma

14 de agosto de 2015

Origens do Hatha Yoga


por Flávia Venturoli Miranda
23 de setembro de 2013
na Conferência da Aliança do Yoga  2013

Difícil resumir as origens tão abrangentes e diversas do hatha yoga [haTha yoga] , mas vamos lá. Através de fontes literárias da tradição, indicarei e explicarei suas origens. Contudo, para ser sucinta, restringirei somente as origens e não abordarei as metodologias do hatha yoga para atingir seu objetivo.

Começarei pela a própria palavra hatha traduzida por força extrema ou obstinação (WILLIANS, 2001). Embora essa palavra já estivesse nos Vedas, sua aplicação junto ao yoga surge apenas no texto, hoje perdido, Hathayoga do sábio Goraksha [gorakSa]. A explicação do sentido velado da palavra hatha, como a junção das energias solar/lunar está em outro texto também de Goraksha, o Siddha Siddhanta Paddhati [siddha siddhAnta paddhati] (século IX):
“A letra ha [ ] se refere ao surya [sUrya] e a letra tha [Tha] indica chandra [candra]. Quando chandra e surya estão em equilíbrio é chamado de hatha yoga.”
cuja frase depois é repetida na Hatha Ratnavali [haTha ratnAvalI] I.21 (século XVII) de Shrinivasa Bhatta [shrInivAsa bhaTTa]. Eliade cita o comentário Goraksha Paddhati (século IX), como outra fonte da explicação de ha = sol e tha = lua. (ELIADE, 1996 p. 193).

Aqui já aparecem 2 características típicas da origem tântrica dessa tradição: o uso de jogos de palavras de duplo sentido que mantém a informação afastada do leigo não iniciado e principalmente, a proposta de fusão (à força?) do sol e da lua, que são opostos e complementares. O tantra trabalha afirmativamente [satkAryavAda] à assimilação dos pares de opostos e visa à reunião das polaridades. O mundo existente é a dinâmica da energia, Shakti [shakti], juntamente com a estática consciência, Shiva [shiva]. Esses princípios são a unidade buscada pelas práticas tântricas. Para isso, o tantra não exclui nenhuma possibilidade (nem sacra nem profana) para essa realização, pois não há o profano apenas o sagrado:
"Não existe nada que não seja Shiva.” Svacchandatantra IV- 314.24

Como o sagrado é o profano, usam-se meios tangíveis para o reencontro no sagrado. O yoga do jivatman [jIvAtman] com o Paramatman [paramAtman] dáse através da dialética da corporificação do macrocosmo, e assim a divinização do corpo [deva deha].
“Agnisara dhauti [agnisAra dhauti]. Pressione o nabhi granthi [nAbhi granthi] de encontro à coluna 100 vezes. Este é o agnisara. Concede siddhi [ ] na prática do yoga, cura todos as afecções da barriga e aumenta o jatharagni [jATharAgni]. Esta forma de dhauti deve ser mantida muito secreta. É difícil de ser conseguida mesmo pelos devas [ ]. Somente por esta dhauti consegue-se certamente obter um corpo divino [deva deha].” GhS I.20 e 21

O hatha yoga é um kayasadhana [kAyasadhAna] (caminho corporal) para a libertação [mokSa], através da perfeição [siddhi] corpórea pela autopurificação (em seus vários níveis) que se reflete como a busca da imortalidade [amRRita]. De maneira clara, a samhita [saMhitA] do Gheranda [gheraNDa] I.6 a 8 (século XVI) explica o porquê do trabalho corporal:
“Os ghatas [ghaTa] {corpos} de todos os seres animados são produzidos devido aos karmas bons e maus. Os ghatas dão ensejo aos karmas e assim o círculo é contínuo como de um moinho. Como a roda de um moinho puxando a água de um poço, movida por bois, assim o jiva [jIva] passa através da vida e da morte, movido por suas ações. Como um pote de barro não queimado jogado dentro d’água, o corpo logo perece. Asse o corpo no fogo do yoga, para fortalecer e purificar.”

Podemos ver o mesmo caminho corpóreo nos seguintes versos do Goraksha Shataka [gorakSa Shataka] 1 a 3 (século IX), autoria de Goraksha,
“Om! Exporei o Goraksha Shataka que é o libertador dos laços da existência. É o despertador do atman [Atman] e um assistente para a chave da porta de viveka [ ]. Assim, é uma escada para ser libertado, aqui se trapaceia kala [kAla], em que manas [ ] se livra do apego da ilusão [moha] e se torna conectado ao Paramatman.
Nota-se principalmente que o hatha yoga é uma prática corpórea e não apenas uma filosofia especulativa onto/soteriológica, apesar de ter um vasto embasamento teórico. A quietude mental do samadhi [samAdhi] passa pela transmutação concreta através da parada física do assentamento do assana [Asana], respiratória ou vital do kevala kumbhaka [ ] e sexual na vajroli mudra [vajrolI mudrA ]. Como vemos no Hatha Pradipika [haTha pradipIka] IV.26 a 28:
“Rassa [ ] e manas são instáveis por natureza. Quando rassa e manas estão fixos, então o que não pode ser perfeito?
Oh Parvati [pArvatI]! Quando rassa e vayu [vAyu] ficam imóveis, a pessoa move-se no ar. Com o torpor deles, o próprio jiva bebe o lamento da morte. Quando manas está estável vayu está estável, então o bindu [ ] fica estável. Quando o bindu está estável o corpo torna-se sattva [ ] e estável.”

O tantra tem o mundo material como existente [satkAryavAda] e sagrado, assim o desfrute do mundo é também uma ferramenta para libertação, o yogi [yogI] é o bhogin [ ].
 “(Sahajoli [sahajolI]) É muito benéfica e possibilita moksha através da combinação de yoga e bhoga [ ]” HP III.94

As práticas eróticas que buscam a libertação são mais uma marcante característica tântrica. No hatha há tanto o erotismo concreto vamachara [vAmAcAra] das “oli” [olI] mudras no maithuna [ ] como o erotismo simbólico dakshinachara [dakSiNAcAra] do reencontro da Kundalini Shakti [kuNDaliNI shakti] com seu marido Shiva. Para aquele que opta pela prática simbólica, a khechari mudra [khecarI mudrA] produz resultados no samarassa [ ] da mesma maneira, pois acessa o rassa, que é a ambrosia da imortalidade. Aqui temos outro fator de inclusão, pois ser casado ou celibatário não é pré-requisito para o yoga.

Outra marca do tantra são os ensinamentos passados através de diálogos do casal divino, Shiva e Parvati. Como lemos nessa passagem da Shiva Samhita V.1 (século XVII)
“Shri Devi [shrI devI] diz: - Oh Senhor, Oh amado Shankara [shaMkara]! Diga-me, por amor desses cujas mentes buscam o fim supremo, quais são os obstáculos e os impedimentos do yoga.

O tantrismo presa a linhagem e a tradição, como vemos com SvatmarAma [svAtmArAma] que saúda e apresenta o sampradaya [sampradAya] em seu Hatha Pradipika I.1 - 4, (século XIV).
“Reverencio Shri Adinatha [shrI AdinAtha], que ensinou a sabedoria do Hatha Yoga como o primeiro degrau para o cume do Raja Yoga [rAja yoga]. ... Matsyendra [ ] e Goraksha ensinaram a Hatha Vidya [haTha vidyA] e graças a eles yogi Svatmarama a tornou clara.”

Essa linhagem segue uma tradição específica tântrica: a dos nathas, palavra que significa senhor ou protetor. O natha sampradaya [nAtha sampradAya] é encabeçado por Shiva como o Senhor Original, Adinatha, que ensinou o yoga para obtenção da libertação e da imortalidade. Os Nava Natha [nava nAtha], 9 Senhores, representam as energias do ciclo de criação, por isso personificam a cosmogonia.

Historicamente, o nathismo foi criado por Matsyendra e desenvolvido por Goraksha. Hoje ainda é uma tradição viva na Índia e Nepal. O nathismo surgiu como uma reforma do yoga em bases mais populares e acessíveis a qualquer um que quisesse se dedicar a ela.

 Os nathas são intrinsecamente ligados aos siddhas de onde se ramificaram. O siddha [ ] é aquele que atingiu a perfeição “mágica” das siddhi[1]s. Há inúmeros relatos de façanhas miraculosas dos siddhas nas lendas populares da Índia e Nepal. O siddha sampradaya, originário do poderoso mago alquímico budista Nagarjuna [nAgArjuna], surge 2 séculos antes do nathismos e conta com um número mítico de 84 siddhas.  Praticamente todos os nathas são siddhas.

Como explicado acima, no hatha yoga busca-se as siddhis, dos poderes mágicos e da perfeição de si.
“Se no corpo do yogi pleno de amrta [amRRita] há 2 a 3 anos, o sêmen [retas] fluir para cima, {ele} desenvolverá as qualidades encabeçadas por anima [aNimA].” GoÇ 65
“As dez mudras que conquistam a velhice e a morte. Foram dadas por Adinatha. Conferem as oito poderes divinos [siddhis] desejados por todos os siddhas que se esforçam através delas.” HP III.6 à 9

“Quando a língua pressiona constantemente a cavidade, flui o néctar cujo gosto é caustico, pungente e ácido, com consistência leitosa, de mel e de ghrta[2] [ghRRita]. Doenças fatais e velhice são eliminadas e nenhuma arma poderá feri-lo. Desta maneira se manifesta a imortalidade e as siddhis. O fluído goteja do lótus de 16 pétalas, quando a língua pressiona para cima a cavidade, e a Parashakti [parAshakti] é libertada, então se deve concentrar nisso. O yogi que se concentra em beber o puro líquido secretado, não morre e seu corpo se torna belo e delicado como o caule de um lótus. Dentro da cavidade do topo do Meru, o néctar é secretado. O sábio puro reconhece a verdade que de chandra [candra] jorra como cachoeira o néctar, a essência corpórea, e conseqüentemente a morte dos mortais. Por esta razão se deve praticar a mudra, pois de nenhuma outra forma será alcançada a siddhi corpórea. Esta cavidade é o lugar de confluência dos cinco rios e confere o conhecimento divino. A khecari mudra deve ser estabelecida no shunya[3] [shUnya] imaculado.” HP III.50 à 53

Entre os nathas também há vários aghoris [aghori] e kapalikas [kapalika], o que explica em parte, as práticas abjetas como sagradas.
A amaroli [amarolI]. De acordo com os kapalikas, amaroli é beber a parte do meio do jato da urina fresca.” HP III.96
No universo da magia, temos os nathas como uma variação dos alquimistas, rassayanas [rAsayaNa], pois trabalham a transmutação corpórea buscando a perfeição da imortalidade e a libertação em vida como jivamuktis [jIvamukti]. Como vemos explicitamente aqui:
“Para aquele que tem controle interno, um ferrolho segura um cavalo, assim o yogi pratica diariamente a culto ao nada. O sulforoso nada [nAda] prende o manas mercurial, no que é denominado niralamba [nirAlamba].” HP IV.95 e 96

Os nathas yogis tem uma cultura de inclusão. Entre eles havia e há sadhus [sAdhu], brahmacharins brahmAcarin], grhastas [gRRihasta], shudras [shUdra], maharajas [maharAja], hindus, budistas, jainistas, islâmicos, homens, mulheres, deficientes físicos, jovens, adultos, idosos. Embora todos possam, apenas os verdadeiros praticantes se realizam.
“Qualquer um que pratique yoga ativamente, seja jovem, velho ou muito idoso, doentio ou fraco, pode se tornar um siddha. Qualquer um que pratique pode adquirir siddhis, mas não aquele que é preguiçoso. As yoga siddhis não são adquiridas só pela mera leitura dos shastras [shAstra]. Nem são alcançadas por usar vestimentas de yoga ou por conversar sobre yoga, mas através de prática incansável. Este é o segredo das siddhis. Não há duvida sobre isto. Todas as práticas do Hatha: assentamentos {pIThas}, vários kumbhakas [ ] e procedimentos divinos {divya karaNa}, devem ser mantidas até o Raja Yoga dar frutos.” HP I.67 á 70

Assim há os que optam por viver o desfrute mundano (bhoga), casando e vivendo plenamente em sociedade e há os sadhus celibatários que vivem apenas o yoga. Entre os nathas é dito que ou se começa com bhoga e depois segue pelo yoga, ou o inverso; não há diferença. Os nathas que renunciam ao mundo passam pela iniciação em que da cartilagem da orelha é perfurada com uma grande argola de ouro, ganhando o nome de kanphatas [kAnphata].

As origens mitológicas do hatha yoga, obviamente são divinas.
“Adinatha ensinou esta vidya a Parvati, como descrito no Mahakala Yoga Shastra [mahAkAla yoga shAstra] e outros trabalhos:
[girijAyai AdinAtakRRito haThavidyopadesho mahAkAlayogashAstrAdai prasiddhaH (jyotsnA)] (KAVIRAJ, 1927)

Segundo as lendas, a Devi perguntou a Shiva, porque ela havia renascido. Shiva propôs explicar ensinando sobre a sabedoria secreta do yoga em um lugar reservado no fundo do mar. Contudo, um garoto, que havia sido engolido por um peixe quando era bebê e que cresceu em suas entranhas, ouviu inadvertidamente todo o ensinamento divino que se fixou no seu corpo e mente. Shiva percebeu que o menino havia aprendido tudo de dentro da barriga do peixe, deu-lhe o nome de Matsyendra, o Senhor dos Peixes.
“[tIrasaMipanIrasthaH kashcana matsyaH taM yogopadeshaM shrutvA ekAgracitto nishcalakAyo’vatashe]” (KAVIRAJ, 1927)
Matsyendra

 Por castigo pela intrusão, a Devi condenou-o há um dia esquecer tudo o que aprendera. Por 12 anos, Matsyendra permaneceu praticando os ensinamentos vivendo dentro do peixe, e só saiu quando já era um jivamukta, liberto em vida. Mais tarde realmente Matsyendra perde a memória de sua real natureza e é resgato por seu discípulo Goraksha.

Um dia uma senhora infértil que havia suplicado à Shiva por um filho, encontrou Matsyendra e lhe pediu ajuda. O sábio deu-lhe um punhado de cinzas mágicas e orientou que as engolisse, pois isso a faria engravidar. A senhora, contudo, não acreditou e jogou as cinzas em uma estrumeira. Passado 12 anos, Matsyendra retornou ao vilarejo e perguntou-lhe sobre o menino. Ela contou que jogara as cinzas fora e indicou-lhe o lugar. Matsyendra encontrou na estrumeira um garoto de 12 anos dotado da perfeição de um yogi. Por isso, foi chamado de Goraksha, Protetor do Rebanho. Por surgir a partir da súplica à Shiva, entende-se que o deus desceu à terra [avatAra] tomando a forma de Goraksha.
Goraksha
Historicamente, por volta do século IX de nossa era, o sábio Goraksha sintetizou e divulgou o Hatha Yoga. Não há registros claros do personagem histórico, apesar da notória fama por suas proezas mágicas em muitas poesias populares. Dizem ter sido budista, convertido ao hinduísmo. Foi discípulo do sábio kaula [ ] Matsyendra da região do Assam, é o reverenciado como Buddha Avaloketishvara [buddha avaloketishvara], no Nepal. Como mestre, Goraksha orientou muitos discípulos sem discriminação de gênero, classe social, religião, nem condição física. Muitos de seus discípulos se tornaram yogis importantes conhecidos por toda Índia. Aqui temos outra das características tântricas a relação gurushishya [gurushiSya] e a eliminação de valores elitistas de exclusão e segregação.

Resta comentar Gopinath Kaviraj [gopinAth KavirAj] com a possibilidade de o hatha yoga ter 2 origens:
“É difícil averiguar o quão verdadeira é a tradição que atribui a fundação do hatha yoga como ciência aos nathas. Além do mais, existe uma tradição rival que se refere a duas escolas de hatha: uma antiga e outra moderna, fundadas respectivamente por Markandeya [markaNDeya] e pelos Nathas.
“[dvidhA haThaH syAdekastu gorakSAdisusAdhitaH/
anyo mRRikaNDuputrAdyaiH sAdhito haThasaMshakaH/]” (KAVIRAJ, 1927)

Apesar dessa citação em sânscrito, não há o lugar de onde isso foi tirado. No texto Sarngadhara Paddhati [sAr~ngadhAra paddhati], cita o hatha yoga de Markandeya Além disso, pelas minhas pesquisas encontrei uma lenda sobre a imortalidade alcançada por Markandeya, que é a mesma busca proposta pelos nathas no hatha yoga.

Caberiam aqui muito mais detalhes como as óbvias origens através do Patanjali [pata~njali], da tradição védica, até as do budismo de Nagarjuna com seu caminho do meio (que no hatha é o madhyamarga [mAdhyamArga] da sushumna [suSumnA]) e o shunya (é ouvido pelo som intangível do nadanusandhana [nAdanusandhAna]. Alem das influências externas como a da China com alquimia e tantas mais. As origens pelos textos clássicos e a descrição das origens mitológicas dá uma idéia da magnitude das influências desse rico período da história do yoga.

Legenda
GhS - Gheranda Samhita
GoS - Goraksha Shataka
HP - Hatha Yoga Pradipika

Bibliografia
ELIADE, Mircea Yoga, Imortalidade e Liberdade  trad. VELLOSO Teresa de Barros. - São Paulo : Palas Athena, 1996. - p. 193.
DEVESCOVI, Regina Balieiro & MIRANDA, Flávia Venturoli de & JANNARELLI, Sandra R. B. P. A Escola dos Nathas e as Origens do Hatha Yoga. São Paulo: Tantrayana Editora. 2007
GHAROTE, Dr. M. L. Gharote e PAI, Dr. G. K. Siddhasiddhantapaddhatih: a Treatise on the Natha Philosophy by Gorakshanatha. Lonavla, India: The Lonavla Yoga Institute. 2005.
GHAROTE, Dr. M. L. Gharote, DEVNATH, Dr. Parimal e JHA, Dr. Vijay Kant. Hatharatnavali (A Treatise on Hatha  Yoga) of  Shrinivasayogi. Lonavla, India: The Lonavla Yoga Institute. 2006.
GORAKSHA Gorakhbodh. MAGEE, Mike tradutor 1995
KAVIRAJ Gopinath Alguns Aspectos da História e Doutrina dos Nathas Series Princess of Wales Sarasvati Bhavan
MALLIK, Smt. Kalyani Mallik. Siddha Siddhanta Paddhati & Other Works of Nath Yogis. Poona, India: Poona Oriental Book House. 1954.
MIRANDA, Flávia Venturoli. Hatha Yoga Pradipika, Candeia sobre o Hatha Yoga. São Paulo, 2008
MIRANDA, Flávia Venturoli. Gheranda Samhita, Coleção de Gheranda São Paulo, 2008
MIRANDA, Flávia Venturoli. Goraksha Shataka, Cento de Goraksha São Paulo, 2008
MIRANDA, Flávia Venturoli. Shiva Samhita, Coleção de Shiva São Paulo, 2008
MONIER-WILLIAM, Sir Monier & BONTES, Lois MMW Sanskrit Dictionary Digital V1.5 Beta. The Bhaktivedanta Book Trust. 2001
WHITE, David Gordon. The Alchemical Body, Siddha Traditions in Medieval India. The University of Chigado Press, 1996.

®2013, Flávia Venturoli de Miranda
flaviaventuroli@gmail.com                          

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Ao transcrever o texto na integra ou em parte, identifique o autor. J

Aliança do Yoga
www.aliancadoyoga.com.br

ORIGEM DO HATHA YOGA em PDF


[1] As 8 siddhis clássicas são anima, mahima [mahimA], garima [garimA], laghima [laghimA], prapti [prApti], prakamya [prAkAmya], ishitva [Ishitva], vashitva [vashitva] e yatrakamavasayitva [ yatrakAmAvasAyitva] (miniaturização, maximização, densidade, leveza, aquisitivo, volição, supremacia, dominação e transportação).
[2] ghrta – ghee – manteiga clarificada
[3] shunya – vazio, vácuo

26 de julho de 2015

O que é a mente?


Manas explicado por Vasishtha

trecho adaptado do Yoga Vasishtha
por Flavia Venturoli Miranda

O espaço, akasha [ ], é conhecido também como vazio,
inerte nada, a mente é o nada vazio.
Tanto faz se a mente é real ou irreal,
mas é ela que é apreendida nos objetos de percepção.
Pensamento é mente.
O Si Mesmo, que é revestido no corpo espiritual,
é conhecido como mente,
é Ele que traz o corpo físico a existência.
Mente é a própria experiência,
não é outra a não ser o percebedor, drashta [draSTa]



28 de março de 2015

História da Grande Floresta



Trecho adaptado do livro Yoga Vasishtha
por Flavia Venturoli Miranda

Em uma pequena parte de uma Grande Floresta de grande ilusão, assustadora de ser vista e fonte de amarga dor, viveu um pessoa (purusha) com inúmeros olhos e mãos. Ele tinha uma mente que voava para todos os lugares. Tinha a forma do imenso espaço.

Ele continuamente se flagelava usando vários gravetos que enfincava rapidamente em si e então gritava com uma dor lancinante. Isso o fazia correr em diferentes direções sem qualquer controle de si mesmo. Lançava-se contra os objetos em um breu total. Caia em um poço profundo e desolador. Ali preso, supria com dificuldades uma vida de misérias. Depois emergindo do poço, voltou a acoitar seu corpo e berrava, movendo-se sobre os joelhos sem descanso. Na sua impetuosa pressa, se enredava em grandes espinheiras e perfurava todo o corpo, contorcia como uma traça na chama. Então, corria até um jardim de bananeiras, em que alcançava o outro extremo, a intensa alegria. Muitas vezes, ele foi deste jardim de prazeres para a floresta espinhosa, e outra tantas vezes caia no poço e voltava de novo, não achando prazer em nada.

Ao vê-lo assim por tantas vezes enrolado vertiginosamente, o deus Brahma usou seu poder para libertá-lo do medo e perguntou: Quem é você que tanto geme de dor? O que é você nesse seu lugar? E qual é sua intenção?

A pessoa, então, respondeu:
Todas as pessoas que tem o conceito do Eu (e de outras diferenças) não existe para mim. Não fui capaz de encontrar nenhuma ação para eu executar neste mundo. Sou bem sofrido pelas diversas diferenciações arranjadas por você. Você é meu inimigo, embora seja insignificante. É somente através de você que eu me identifico com a dor e prazer os quais tenho sofrido.

Disse isso e examinou seu próprio corpo. Seu coração começou a se comover e ele chorou alto. Desistindo por um tempo de seu pranto alto, ele novamente lançou seus olhos sobre esta bela forma e gargalhou alto por um tempo, quase rompendo sua barriga. Então, diante do deus Brahma, ele se libertou desse vários corpos grosseiros que havia assumido (nos seus muitos nascimentos).

Através da força do pesado destino, outra pessoa nasceu em outro ponto. Ele apareceu em um estado similar a aquele do outro individuo e se acoitou. Quando o deus Brahma foi consolá-lo, este caminhante passou adiante e desistiu daquele corpo.

Novamente ele veio em outro aspecto, e nesta vida ele caiu dentro de um poço profundo. Não foi visto sair do poço por um longo tempo.

Então, ele apareceu nesta floresta sempre desassossegada, nesta pessoa de um formato ou de outro que, embora, fosse um, contido no seu caminho e de ter conhecido a estrada do conhecimento verdadeiro, rejeitou o conselho de Brahma e ainda persistiu em seu curso obstinado de auto-açoitamento.

Essa pessoa feroz ainda existe, desfigurada por grande dor, vivendo nessa floresta terrível cheia de espinhos pontiagudos e coberto de uma densa treva capaz de por medo em todos os corações. Contudo aquele que é sábio deve, mesmo no meio de uma floresta em chamas, se alegrar de estar nela como um jardim de flores refrescantes com rufadas de aromas doces.

Rama pede que Vasishtha explique o significado desta história:
1.       A Floresta interminável é o samsara (existência mundana) que é destituída de começo, meio e fim, é maya (ilusão) e é horrível e repleta com inumeráveis vikalpas (fantasias).
2.       Purusha (pessoa) reside nesta floresta de um universo, ele é cheio de iras terríveis e isso  leva à mente se enredar na dor.
3.       Aquele que se verificou a passagem impetuosa da mente representa a discriminação.
4.       A mente que atingiu através de sua oposição, discriminação, o estado de quietude de Parabrahman.
5.       Primeiramente a mente foge da discriminação e por isso se enreda nas vasanas dos objetos.
6.       O poço a onde os egos afundam depois da maceração de seus corpos é naraka (inferno)
7.       O bananal simboliza o svargaloka (céu) cheio de prazeres.
8.       A floresta de árvores cheias de espinhos é o bhuloka (terra).
9.       O personagem que, depois de cair dentro do poço, não era capaz de erguer-se dali e por um longo período leva a mente a não se livrar dos erros.
10.   Os espinhos longos e pontudos representam os homens e as mulheres neste mundo, cheio de paixões.
11.   As palavras: “Você é meu inimigo embora insignificante e É apenas por você que eu me identifico com dor e prazer as quais me fazem sofrer.” são os afloramentos da mente em seus últimos suspiros para a morte através da discriminação.
12.   O choro é disparado quando os desejos são caçados para serem aniquilados.
13.   O lamento e pedidos de ajuda resultam da dor que a mente com Jnana meio desenvolvido sente quando renuncia aos desejos.
14.   O final, calmo e feliz e a subsequente gargalhada é a felicidade que brota da mente se fundindo no puro Jnana.
15.   E a felicidade real é aquela que brota quando a mente se despe de todos os desejos através do eterno Jnana, e destrói sua forma sutil.
16.   O refreamento da mente através da força extrema refere-se a concentração dela através da iniciação no Jnana.
17.   O açoite do corpo refere-se a dor causada pela extrema concepção errônea da mente.
18.   A peregrinação da pessoa põe entre um vasto campo é o vaguear no mundo, inconsciente da Realidade, que pode ser atingida somente através do domínio das perecíveis vasanas.

Disse Vasishtha a Rama de mente clara: Assim é que todos os samkalpas e vasanas que um homem gera enredam-o como numa teia. Todos se tornam sujeitos às amarras através de seus próprios samkalpas e vasanas, como um bicho-da-seda no seu casulo. Sondou dentro de sua mente através de sua mente imaculada e peneirou-a Satisfatoriamente, que você possa destruir sua mente impura.

Glossário:
bhuloka - terra
Brahma – deus, absoluto (qualificado)
jnana – conhecimento, neste contesto se refere ao conhecimento real inato da alma
maya – ilusão
naraka - inferno
Parabrahman – Deus supremo, Absoluto
purusha  - personagem, pessoa
samkalpa – pensamentos e desejos materializados
samsara  - existência mundana
svargaloka - céu
vasana – intenção, desejos latente inconsciente
vikalpa – fantasia, imaginação