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28 abril 2024

Simhasana

de Flavia Venturoli Miranda

postura do leão
simha - leão

Leão é um símbolo de força e realeza, em muitas culturas. No Dicionário Sânscrito Monier Williams diz que  simhasana significa o assento do leão, ou do rei, ou seja, o trono. 

Simhasana é um dos 4 asanas mais importantes para a Hatha Pradipika (siddhasana, padmasana, bhadrasana e simhasana). A postura clássica é descrita na HP I.52 a 54 assim:

"Coloque os tornozelos abaixo do escroto, o tornozelo direito para a direita e o esquerdo para o lado esquerdo. Coloque as palmas das mãos sobre os joelhos com os dedos abertos, os olhos fixos na ponta do nariz e com a boca aberta. Isto é simhasana, celebrado de grande estima pelos mais avançados yogis. Este asana facilita os três bandhas"


É interessante notar a descrição detalhada da concentração na ponta do nariz, dedos abertos (que se assemelham a garras) e boca aberta (possivelmente por se parecer com um leão rugindo). Outro ponto é a ênfase dada que esse asana facilita a execução dos 3 bandhas, assim sua importância se eleva por se auxiliar nas mudras.

A postura é montada como um leão focado e rugindo de garras prontas para o ataque. Ao executar esse asana. A exalação contundente é feita pela boca colocando a língua para fora e ressoando como um rugido, para alguns autores contemporâneos, isso é a simha mudra.  

Há diversas posições das pernas para  executar o simhasana. Há variações como a descrição na Hatha Pradipika: tornozelos cruzados sobre o períneo. Ou em vajrasanaou em sukhasana, ou em mandukasana, ou ainda a descrita por Iyengar em padmasana. Todas com a versão de língua para fora, embora haja descrições em que apenas se abra bem a boca.


Outras variações ficam por conta da colocação das palmas no chão ou nos joelhos com os dedos  afastados virados para frente, ou com as palmas das mãos no chão, dedos virados para trás e os joelhos sobre o dorso das mãos. Há ainda variações de nasagra drshti e bhrumadhya drshti segundo o Swami Kuvalayananda.

 
 Segundo o natha nepalês, Bhola Nath Yogi, se faz simhasana de quatro (chatushpadasna) e se ruge como um leão realmente. Isso traz o vigor de um leão para o praticante.

Simha é um dos signos astrológico, associado com o astro rei, o sol. Leão é o veículo da deusa guerreira Durga. O 4º avatara de Vishnu desce na forma furiosa de Narasimha, ½ homem ½ leão, para salvar seu devoto o demônio Prahlada. Aqui temos algumas indicações simbólicas de leão como poderoso, forte, soberano.

Enfim, a postura reproduz a imagem de um leão com as garras abertas, rugindo, pronto para o ataque, numa demonstração de soberania e poder. Ao praticá-la, há uma descarga emocional pelo "rugido", que tanto relaxa, como prepara para um eventual ataque. Ótima prática para liberar as tensões, descongestionar as expressões faciais e trazer foco para tomar decisões importantes.

Fonte:

Light on Yoga – B. K. S. Iyengar
Asanas – Swami Kuvalayananda – Cultrix
Yoga Terapia – Nilda Fernandes
yoganarasimhasana – Vinyasa Yoga – Srivatsa Ramaswami – Marlowe
Notas de aula com Bhola Nath Yogi

Fonte histórica:

Hatha Pradipika I.52 a 54
Hatha Ratnavali III.30 e 31
Gheranda Samhita II.14 e 15

20 janeiro 2024

viparita karani asana ou mudra?

por Flavia Venturoli Miranda
20/01/2024

Para abordar a inversão da posição do corpo nos asanas, tenho que começar com uma mudraViparita Karani Mudra, selo da ação invertida, é uma das mudras que acabou virando asana provocando uma confusão com essa sua situação no legado do Hatha Yoga atual.
 
Então, primeiro explico resumidamente as principais ferramentas* do Hatha Yoga:
Asanakumbhaka (pranayama), mudra, samyama (dharana, dhyana e samadhi).
Com os asanas se alcança o fortalecimento do corpo. Com os pranayamas se tem a leveza que advém da purificação das nadis e do início da jornada da kundalini. Com as mudras vem o equilíbrio entre os vários koshas pela selagem de algumas nadis para conduzir o prana através de ações rituais que convidam a kundalini a ascender. Finalmente, a parte principal de todo o yoga que é a meditação, com suas 3 etapas de concentração, meditação e fusão.  Assim, o Hatha conduz ao Yoga Supremo.
 
O Hatha refina e apura o corpo com seus vários envoltórios (koshas) através da alquimia de suas práticas para que o adepto esteja preparado ao chegar ao cume dessa jornada que é a meditação. Yoga é a desalienação e desidentificação com a matéria para a fusão de si em si mesmo. Nem é possível resumir o hatha e tão pouco o yoga, por isso fico por aqui mesmo, nesse momento.

Voltando as posturas invertidas. Aqui temos uma distinção clara de objetivos do asana como fortalecimento do corpo e da mudra como equilíbrio para invocação da energia suprema. Assim, se a famosa viparita karani é executada como asana, seu objetivo maior como mudra é neglicenciado. Contudo ainda sim é importante praticar o viparita karani asana, porque é um preparo para a prática da mudra. Como asana, se atem aos detalhes físicos do preparo e execução, do posicionamento dos membros, da sustentação com atenção e sem tensão na permanência, e da respiração tranquila.


Viparita karani mudra é a ação de inverter a posição do sol residente na região do umbigo com da lua na raiz do palato. A lua exsuda a ambrosia da imortalidade, amrta. O sol consome tudo que recebe. Assim, constantemente, o fogo gástrico devora a ambrosia que cai do palato, consumindo a existência. Na inversão, o umbigo fica em cima e o palato em baixo, ou seja, o sol fica para cima e a lua para abaixo, o fogo gástrico continua ascendente, mas não mais consome a ambrosia que está abaixo e ela secreta para o topo da cabeça apenas, prolongando a existência e a transformação alquímica por esse néctar.
 
Então, lembre-se que se sua pratica de viparita karani já atingiu os estados de estabilidade – sthira e de conforto - sukha, produzidos pelo fortalecimento, já é chegada a hora de praticar a mudra e começar a convidar a kundalini.
 
Ao se por em viparita karani, por algum tempo focalize no sol e deixe o fogo gástrico queimar as impurezas da região abdominal. Depois, por algum tempo a mais, foque na lua e sinta o sereno lunar inundar sua cabeça de néctar. Deixe que essa seja sua “meditação” nesse dia.
 
Tenha uma vida longa e próspera.
 
* Essas ferramentas variam entre os diversos textos antigos, mas resumidamente é isso.


26 dezembro 2019

As Mudras no Hatha Yoga

 
da Hatha Pradipika III.1 a 5
tradução adaptada por Flavia Venturoli Miranda
"... A kundali é o sustentáculo de
 todas as práticas de yoga.

Quando a kundali é acordada
todos os lótus e nós são perfurados.

O prana fui pelo caminho vazio
da trilha suprema. Assim, chitta
se torna independente.

Por isso, deve-se empenhar esforço total
através das práticas das mudras para
acordar Ishvari, que dorme com a
boca fechando a porta de Brahma.”

14 janeiro 2013

Rshi Ashtanga Yoga Paramparya

Sábia Tradição do Yoga de 8 Partes

de Flávia Venturoli Miranda
janeiro/2013


rshi – sabio ou santo
ashtanga yoga  – 8 membros do yoga
paramaparya
  - tradição
Rshi Ashtanga Yoga Paramparya é uma sequência de asanas, pranayamas e mudras que podem ser feitos antes do Surya Namaskar, Saudação ao Sol. A seguir a sequência  está desmembrada, para saber mais detalhe sobre  cada asana, pranayama ou mudra clique no link.
Na sequência do Rshi Ashtanga Yoga Paramparya, vajrasana  é a base para todos os demais asanas, mudras e pranayamas.

Inicia-se a sequência permanecendo 15 segundo em vajrasana, ou seja sentar sobre os calcanhares.

Em seguida por 3 vezes, inspira-se em mahat pranayama e exala-se pela boca na kaki mudra com sopros curtos, enquanto se curva à frente em dharmikasana.
 



Permanecer por 1 minuto. Depois retornar a vajrasana

Inclinar o corpo para traz até deitar. Permanecer em supta vajrasana por 1 minuto.Depois retornar a vajrasana.

Em vajrasana, revirar os artelhos para frente, esta é a vajravirasana



Em vajravirasana, elevar os braços acima, unir as mãos em prece e permanecer com as, punhos apoiados na cabeça por 1 minuto.
Ao descer o braço, por as mãos em prece em frente do peito.
Desvirar os artelhos.

De cócoras, cabeça nos joelhos, abraçando-os é a utkatasana dessa tradição.Permanecer por 1 minuto.

Colocar as mãos no chão e esticar as pernas. Cabeça continuam nos joelhos. Esta é a postura de Meru.


Elevar o tronco, ficando na vertical com os braços soltos na postura equânime.


Esta sequência de posturas foi publicada no Boletim da Associação Internacional de Professoresde Yoga – IYTA, para anteceder ao Surya Namaskar


Fonte: Boletim da IYTA maio/jun 2000

Kailasa Mudra

Selo de Kailasa

de Flavia Venturoli Miranda
janeiro/2013
Kailasa – montanha do Himalaia que é a morada do deus Shiva e Kubera
mudra – selo
Na kailasa mudra, eleva-se os braços e une-se as mãos em preces com os punhos apoiados na cabeça, reproduzindo no corpo a grandiosa montanha Kailash de mais de 6.600m do norte do Himalaya no Tibete. 
Montanha Kailasa - morada de Shiva e Kubera
Esta bela e imponente montanha é a fabulosa residência do deus da riqueza Kubera e é o paraíso do deus Shiva.
Kubera - deus da riqueza  mora em Kailasa
Shiva e família em Kailasa

Conta a mito que o rei Ravana tornou-se um devoto para conseguir as bênçãos do deus Shiva.
Ravana
Porém, Shiva não lhe deu atenção, pois estava em Kailasa com sua esposa Parvati dançando o tandava (saiba mais sobre na postagem sobre natarajasana).
Shiva e Parvati dançando o tandava
Ravana ficou irritado por não ter suas preces atendidas e levantou a montanha Kailasa para levá-la consigo para o Shri Lanka. Isso deixou Shiva furioso que pisou sobre a montanha quase esmagando Ravana embaixo. Ravana pediu desculpas oferecendo suas várias cabeças em troca pelo seu erro. Shiva em comiseração libertou-o e deu-lhe o nome de Ravana Asura.

Shiva esmagando Ravana no Kailasa
Kailasa mudra dá ao praticante a força dessa montanha rica e celestial, enquanto traz o assentamento e humildade para nossas várias cabeças demoníacas: mente, ego, pensamentos, etc.

Na sequência Rshi Ashtanga Yoga Paramparya, a kailasa mudra é feita na postura vajravirasana e se permanece por 1 minuto.


Fonte:

Boletim da IYTA maio/jun 2000 - Rshi Ashtanga YogaParamparya

08 janeiro 2013

Kaki Mudra


Selo da Corvo

de Flavia Venturoli Miranda
dezembro/2012
kaki  – corvo fêmea, gralha, corva, corvacha
mudra  - selo

Kaki é a fêmea do corvo. Ela é uma das filhas do sábio Kashyapa e Tamra, 
Tamra mães das aves, mãe de Kaki
a mãe dos corvos e corujas, segundo o Agni Purana e o Mahabharata
Kaki é a mãe dos corvos e corujas
Corvo é uma ave de muita astúcia e inteligência. Mitologicamente é associada a presságios, talvez daqui venha os poderes de clariaudiência e clarividência associados a kaki mudra.

Na Shiva Samhita III.70, 74 e 75 diz:
“Aquele que é sabedor das regras do prana e apana, inala o ar frio pela contração da boca, na forma do esplêndido bico de corvo, assim compartilha o estado de libertação.
Quando sorve o ar pela kaki mudra, tanto pela manhã como no crepúsculo da noite, contemplando-na se vai para a boca da kundalini, cura a doença devastadora dos pulmões. Aquele que dia e noite sorve o fluido através do esplêndido bico do corvo tem as doenças destruídas. Certamente, adquire os poderes de clariaudiência e clarividência.”
Na Gheranda Samhita III.86 e 87 descreve a kaki mudra:
“Contraia os lábios, como o bico do corvo, sugue o ar em pequenos sorvos, lentamente. Esta é a mudra do corvo, destruidora de todos os males. Kaki mudra é uma mudra excelente, mantida em segredo em todos os Tantras. Seus benefícios são que o praticante torna-se livre de todas as doenças, como o corvo.”
Na Gheranda, a kaki mudra é usada também para execução da yoni mudra, como para fazer alguns dhautis, purificações abdominais.
yoni mudra
Na sequência do Rshi Ashtanga Yoga Paramparya, em vajrasana, por 3 vezes, inspira-se em mahat pranayama  e exala-se pela boca na kaki mudra com sopros curtos, enquanto se curva à frente em dharmikasana.
Fonte  


Boletim da IYTA maio/jun 2000 - Rshi Ashtanga Yoga Paramparya
 
Fonte Histórica:
Gheranda Samhita IIi.70, 74 e 75
Shiva Samhita III. 86 e 87