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18 agosto 2024

Ashtanga Yoga - Oito Partes do Yoga

de Flavia Venturoli Miranda

yama – regras de convivência
niyama – regras de autocontrole
asana – assentamento
pranayama – controle da vitalidade
pratyahara – contenção dos sentidos
dharana – concentração
dhyana – meditação
samadhi – igual a si

 As oito partes do yoga são em duas camadas externas e internas. A primeira, externa, é da lida do mundo: como regrar a vida de convivência com os outros e consigo, como se assentar, como controlar a energia da vida e como introverter os sentidos. A segunda camada, a interna, é o cerne do trabalho do yoga com o controle da mente: trazendo de uma mente desfocada, para centrada e para, em fim, fundir a mente no objeto escolhido. Eliminando a intermediação do corpo/mente com a percepção direta da “alma”.

08 julho 2017

84 asanas



de Flavia Venturoli Miranda
julho 2017

O asana é firme e confortável
pelo relaxamento da ação e a meditação no infinito
assim os pares de opostos não ferem
YS II.46 à 48

Asana, pranasamyama, pratyahara, dharana, dhyana e samadhi são os seis membros do yoga.
Há tantos asanas quanto jivas (viventes) existem. Maheshvara, o grande senhor, conhece todas as suas variedades.
Dos 8.400.000, Shiva estabeleceu que 1.600 devem ser executados.
De todos apenas 2 asanas são particularmente especiais. O primeiro é o siddhasana e o segundo kamalasana.
O yogi sempre destrói as doenças com os asana, os erros com o pranayama e os distúrbios mentais com o pratyahara.
GoSh 4 à 7, 54

Hatha Pradipika
Os asanas. Os asanas são tratados em primeiro lugar, e é a primeira parte do hatha. Assim, se deve praticar os asanas, que dão firmeza ao yogi, o mantém saudável e tornam seus membros flexíveis.
Assim, com o asana, o senhor yogi livra-se do cansaço, e é desejoso pela prática de bandha.
O yogi sábio, firme no asana, é comparado a um deva.
HP I.19, I.57 e IV.72 

Gheranda Samhita
O asana traz fortalecimento.
GhS I.10 

Hatharatnavali
Asana como o primeiro membro do hatha é narrado aqui por mim. A execução de asana traz estabilidade, saúde e destreza ao corpo.
Vou descrever alguns dos asanas entre os 84. Estes asanas relatados por Adinatha outorgam boa saúde e felicidade.
HR III.5 e 8

Asana é uma palavra sânscrita que significa assento, trono, parada. Em português, é traduzido como postura.  O asana é uma das oito partes descritas por Patañjali, o sábio que sistematizou a filosofia do yoga a mais de 2 mil anos. No sistema de Patañjali, asana é uma das ferramentas externas do yoga, cuja função é apenas parar o corpo, para aquietar a mente. Nesse período, vê-se o corpo como um obstáculo para introspecção e autoconhecimento, já que o objetivo máximo do yoga é a cessão da identificação com a mente (ou seja, com o corpo em todas suas manifestações) para revelar o verdadeiro observador que transcende a mente/corpo

Mais de 1 mil anos depois, o tantra, com outro ponto de vista,  sistematiza o hatha yoga. Aqui o corpo é considerado existente e sagrado, apto como instrumento de refinamento e sutilização, para que as habilidades inatas (e esquecidas) da manifestação sejam reveladas, as siddhis (perfeições), buscando a imortalidade e libertação em vida. O asana, ainda que meramente o primeiro dos vários passos para a libertação, ganha relevância pelo fortalecimento e divinização do corpo, que assim não é mais afligido por sofrimentos internos e externos. Com o corpo alquimiado, ou seja, transmutado num corpo divino há estabilidade para a busca principal que é a libertação.

A quietude não é natural ao corpo e nem a mente, já que a matéria e a energia são ativas e tendem ao movimento e a multiplicação. O caminho para se alcançar a estabilidade e domínio do corpo (e mente) é pela ação, treino, prática intensa e contínua, até que a ação não seja mais inconsciente e sim arbitrária. Para trazer conscientes as ações é preciso conhecer suas razões e reações e então se apoderar voluntariamente delas. Portanto, o corpo (e a mente) não reativo, não regido por impulsos, reflexos, pode ser parado. O assentamento permite a meditação e o trabalho profundo do yoga acontece.

Nas escrituras do yoga, o objetivo do asana é a estabilidade, a parada, a imobilidade. Então, por que há tantas variedades e tipos de asanas?

A prática de vários asanas traz saúde, pois combate males físicos (tornando a coluna saudável, as articulações flexíveis, o aprimoramento do sistema circulatório e imunológico, etc.) e mentais (eliminando fadiga mental, desânimo, excitação, hesitação, etc.).

As escrituras enumeram 8.400.000 asanas, ou poeticamente, “os asanas são tantos quantos seres vivem.” Destes 84 são os melhores. Especula-se que esse número imenso de asanas, esteja associado ao número de nascimentos que os seres passam até alcançarem o privilégio de nascerem como humanos, segundo o pensamento indiano. Desse modo o vivente, ao praticar o asana, realiza e incorpora a experiência de todas as vidas passadas, ora transpondo os obstáculos, ora desfrutando de seus prazeres.


A maioria das escrituras explicam apenas poucos asanas, e praticamente todas citam que 2 são os mais importantes: siddhasana e padmasana. Ambos são asanas de meditação (o primeiro essencialmente de meditação e o segundo indicado para os pranayamas). Dentre estes o siddhasana é o melhor. Novamente reforçando que o objetivo dos asanas é principalmente meditar. Por tanto, os demais milhares de asanas servem como preparo para esses dois principais.
siddhasana
padmasana ou
kamalasana



24 julho 2014

Asana no Yoga Sutra


de Flavia Venturoli Miranda
julho/2014
"sthira-sukham asanam
Firme e confortável é asana,

prayatna-shaithilya-ananta-samapattibhyam
pelo relaxamento do esforço e pela meditação no infinito.

tataù dvandva-anabhighatah
Deste surge a imunidade aos pares de opostos
.."
Yoga Sutra II- 46 à 48
O tranquilo assentamento (asana) em si mesmo pelo (re)encontro do infinito, traz o benefício da imunidade aos conflitos das dualidades.

A finalidade das "posturas" do yoga é parar. Pela prática do Hatha Yoga, com seus inumeráveis asanas, adquire-se força, estrutura e estabilidade física, que permite a imobilidade corpórea para silenciar a mente, que deste modo possibilita a percepção daquilo que é infinito em si mesmo.. Com a quietude advinda da meditação surge o fortalecimento psíquico que não padece mais nas exaltações das paixões nem nos declínios das aversões. 

Quando se assenta em si mesmo ocorre a estabilidade e a força da paz.

21 setembro 2012

08 junho 2012

Soberania de Si

de Flávia Venturoli Miranda
4 de junho de 2012.
Para meu irmão que me pediu essa explicação.
Altivez do Soberano

Buddhi, o intelecto, é o primeiro princípio da manifestação do mundo na filosofia Sankhya. A buddhi evolui do reflexo de Purusha na Prakrti.

Purusha é a luz da consciência, eternamente imutável, estático e resplandecente. Prakrti é a substância primordial, a matéria da qual as coisas são feitas, é eterna e incônscio.  Inicialmente, Prakrti está imóvel com três qualidades (gunas) latentes que são perturbadas pela luz de Purusha. Essas qualidades se desequilibram e Prakrti começa suas mutações transitórias. Os gunas são: a qualidade estática luminosa da leveza que é prazerosa, sattva; a qualidade móvel da agitação que é dolorosa, rajas; e a qualidade estática pesada do obscurecimento que é intoxicante e limitante, tamas. As três qualidades são passadas para toda a manifestação, porém em proporções diversas.

Há inúmeros Purushas a se refletirem em uma única Prakrti. Contudo, cada um desses reflexos faz com que a única Prakåti, por ser qualificável, se desdobre em muitas partes, fazendo surgir uma profusão de formas. Desse modo, Puruña torna-se um expectador da Prakrti, esquecendo que na verdade é seu próprio reflexo que fez surgir o mundo.

Budh, despertar, é o radical de buddhi que, por sua vez, significa intelecto, sábio, razão, discernimento. Segundo o Sankhya, a buddhi é definida como percepção (khyati) e apreensão (adhyavasaya). Essa é a primeira manifestação e, como todas as demais, possui os três gunas. Rajas faz com que buddhi tenda para sattva ou para tamas.

Segundo o sábio Ishvara Krshna, quando buddhi tende a sattva; ou seja, quando o intelecto está leve, brilhante e puro; tem a disposição da virtude (dharma), sabedoria (jñana), desapego (viraga) e soberania (aishvarya). Quando buddhi tende a tamas; ou seja, quando o intelecto está pesado, entorpecido, obscurecido e limitado; tem a disposição do vício, ignorância, apego e fraqueza.

Assim, a natureza do intelecto tranquilo é a soberania. A soberania é ser senhor de Si. Ser o controlador e administrador dos seus desejos. O poder nato da autoridade, responsabilidade, o domínio sobre Si. As atitudes nobres e supremas brotam: sabedoria, desapego e ética. O intelecto altivo é estável e sua natureza transluz. Aqui a imobilidade é o desfrute do prazer. Sattva subjuga rajas e tamas.

É interessante notar que a mobilização interna se faz necessária para que essas qualidades do intelecto se manifestem, caso contrário ocorre a entropia. O peso da letargia obscurece, limita, entorpece e emburrece a Si mesmo. Aquele que é naturalmente desperto, buddhi, passa a ser irresponsável, torpe, nefasto, sujeito a fraqueza de Si. É subjugado pela própria impureza intelectual. O “Si mesmo” se identifica com essas qualidades e a escuridão o leva a paralisia. Aqui a imobilidade torna o intelecto uma âncora em um lodo de aflições (kleshas).

A tendência (vasana) à luz ou escuridão é ditada pelas ações (karmas). As ações levam a hábitos (samskaras) que tendem a se repetir continuamente de forma inconsciente. Por isso, para quebrar esse ciclo de sofrimento (sansara), advindo da queda livre no buraco escuro do intelecto, é necessário mobilização interna.

No Yoga Sutra, o sábio Patañjali diz que a dispersão mental produz e é produzida por obstáculos limitadores: doença, procrastinação, dúvida, negligência, preguiça, desinteresse, confusão, não realização e instabilidade. Que por sua fez produz sofrimento, melancolia, agitação física e mental e respirações difíceis. Patañjali dá várias indicações para o apaziguamento em uma mente focada: exercitar o foco em um único assunto, mudança de atitude com os outros, controle respiratório, desapego, meditação, entre outros. O exercício da troca do que é “tamásico” pelo “sáttvico” retém essas qualidades na intuição e na memória, para isso deve-se crer na prática feita com afinco, que leva a um enfraquecimento das tendências corrompidas. Então, a prática deve ser executada com desapego, sem contar com resultados, mas acreditar que eles ocorrerão, desse modo a soberania do intelecto é assegurada e conservada.

Assim, com o intelecto tranquilo e a mente quieta, o resplendor de Si mesmo se faz notar.


18 maio 2012

Seis Inimigos x Seis Virtudes

de Flávia Venturoli Miranda
Ações que advém de pensamentos perversos, como injúria etc, são feitas pela própria pessoa, levadas a ser feitas, e permitidas de ser feitas; são realizadas tanto pela cobiça {lobha}, quanto pela raiva {krodha}, quanto pela desilusão {moha}; e podem ser fracas, moderadas ou intensas e causam miséria e ignorância infinitas. Por isso, se deve desenvolver pensamento contrário.
Yoga Sutra II.34


 Seis Inimigos {ariSaDvarga}

  1. kama [kAma] - desejo
  2. lobha [ ] - cobiça
  3. krodha [ ] - raiva
  4. moha [ ] - ilusão
  5. matsarya [mAtsarya] - inveja
  6. mada [ ] - orgulho

6 inimigos - Arishadvarga

 Seis Virtudes {SaTsaMpat}

  1. shama [shama] - tranquilidade
  2. dama [ ] - controle dos sentidos
  3. uparati [ ] - cessação dos desejos e das atividades mundanas
  4. titiksha [titikSa] - resignação, resistência aos pares de opostos
  5. samadhana [samAdhAna] - profunda meditação
  6. shraddha [shraddhA] - fé
No curso sobre pranayama [prANAyAma], Kausthub Desikachar falou que quando nosso coração está voltado para o mundo exterior tende aos seis inimigos que nos distraem da consciência real, mas quando se volta para o mundo interior segue as seis virtudes no caminho da consciência real. Kausthub demonstrou isso através do yantra do anahata chakra.
anahata chakra


21 dezembro 2011

Contentamento - Santosha

Mahavidya Yoga 
deseja a todos que 2012 
seja repleto de Contentamento!

Yoga Sutra II.42
A partir do contentamento [santosha],
alcança-se a suprema felicidade.  
Yoga Sutra II.42

19 fevereiro 2011

Yoga e Treinamento Autógeno 1ª parte


por Flávia Venturoli de Miranda

Aqui no ocidente, usamos várias técnicas de relaxamento ao final da aula de yoga. Uma dessas técnicas, criada pelo neurologista alemão Johannes Heinrich Schultz em meados dos anos de 1930, é chamada de Treinamento Autógeno, ou  T.A simplesmente.

Chama-se Treinamento, porque se deve praticar com assiduidade para conquistar os objetivos propostos. Chama-se Autógeno, porque, após aprender esse método através de um professor ou instrutor apto, o próprio praticante pode fazê-lo sozinho (auto = si próprio + geno = gerar), ou seja ele mesmo se conduz ao relaxamento. A autonomia para alcançar o relaxamento do Treinamento Autógeno faz que alguns autores o associem a uma auto-hipnose. Segundo Hossri (1970), o T. A. pode ser aprendido em grupo para que cada um, treine por si.


Como qualquer técnica de relaxamento, o T.A. é usado com a finalidade de obter relaxamento físico e mental, o que auxilia no combate e prevenção do cansaço, ansiedade, tensão e estresse. Em seu livro sobre T.A., Hossri demonstra graficamente como a tensão emocional afeta-nos e como o T.A. pode ajudar do reestabelecimento do equilíbrio.


 Schultz vai mais além, ensina que o T.A. pode ser usado em níveis mais avançados até como prática de autoconhecimento. Por isso, é uma prática utilizada por psicólogos e psicanalistas, em seções individuais, nas quais as experiências vivenciadas durante o T.A. são analisadas.

Assim há 2 níveis do Treinamento Autógeno, que devem ser alcançados gradativamente. Portanto, não se deve, pular etapas:
1.        nível básico com 6 etapas., cujo objetivo é o relaxamento psíquico e corporal,
2.        nível avançado com 7 etapas, que trabalha com a imaginação e tem por objetivo o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal.

O T.A., no nível básico, se baseia no exercício de autoindução do relaxamento de vários sistemas do corpo (motor, vascular, cardíaco, respiratório, digestório, neurológico). Durante uma aula de yoga, uso apenas o T.A. básico que é o suficiente para se alcançar o bem-estar procurado pela grande maioria dos alunos.

Interessante notar, como já o fez Schultz, que no Treinamento Autógeno há várias semelhanças com o yoga. Vou resumidamente enumerar algumas que encontrei:

1.    O treino com dedicação e sem crítica nem julgamento é a própria frase do Y.S. I.12 de Patanjali: “A prática {abhyAsa} e o desapego {vairagya} conduzem à cessão (dos turbilhões da mente).”

2.    A prática do T.A. também se assemelha o que é necessário para ação do yoga {kriya yoga}, descrita no YS II.1: disciplina {tapas}, auto-estudo {svadhyAya}, e “auto-entrega” de se permitir relaxar {Ishvara praNidhAna}.

3.   Inicia-se o relaxamento {shaithilya} ao permanecer em uma postura estável e confortável (Asana - YS II.46 e 47), ex: deitado ou sentado em uma poltrona.

4.   O T. A. básico utiliza o foco sensorial no corpo, que em si é um treino para o domínio das sensações (pratyAhAra - YS.55).

5.   Ao manter a atenção em cada parte do corpo e em cada etapa da condução (ou da autocondução) pratica-se a concentração (dhAraNA - YS III.1 e 13), cujo trabalho mental produz uma comutação organísmica (segundo Hossri).

6.    No T.A. avançado as descrições das práticas são muito semelhantes às meditações com visualização, sentimentos e símbolos (como ocorre no saMyama do yoga  -YS III.17)


Então vamos a prática!

veja a próxima postagem


Bibliografia

SCHULTZ, J. H. O Treinamento Autógeno. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1ª ed. brasileira, 1967
HOSSRI, Cesário Morey. Treinamento Autógeno e Equilíbrio Psicotônico. São Paulo: Editora Mestre Jou, 2ª ed. 1970
Patanjali, Yoga Sutra

09 abril 2010

Yoga Sutra capítulo I - versos 2 e 3


Nos Yoga Sutra [yoga sUtra], o autor Patanjali [pata~njali] definiu yoga como

Yoga é a cessão das modificações do campo da mente
 Desse modo o observador se assenta na sua real natureza

Deixo algumas perguntas para você que é praticante de yoga:

O que você busca realmente com o yoga?
Quando você pratica yoga, você já parou para refletir sobre quem é você?
Você é autêntico consigo mesmo?
Você realmente consegue alcançar uma quietude mental, a ponto de se observar sem críticas, elogios, preconceitos, ditames sociais e morais?
Sua prática de yoga lhe ajuda nesse caminho da busca de si?
Quanto você está em silêncio interno e passa observar a própria mente quem é o observador?


de Flávia Venturoli Miranda 
técnica: Aquarela
provavelmente 1996