16 janeiro 2012

Gurus de Dattatreya

Shri Dattatreya Avaddhuta

Dattatreya
 Dattatreya foi o primeiro guru de todas as linhagens yogis, a primeira manifestação humana de Shiva, a época de seu aparecimento é remota nos tempos longínquos de milênios. Dizem que nunca abandonou o seu corpo e pode ser visto no sul da Índia próximo às montanhas Malayas, no pico de Arunachala e suas cercanias pelos afortunados, ainda mesmo nos dias atuais. Possuía quatro cães e uma vaca branca como companhia, era um ecologista nato e um de seus dizeres era:
"Podemos permanecer ignorantes,
destruindo e saqueando a natureza ou aprender com ela e
descobrir a sua essência divina".
Foi autor de importantes escrituras yogis, a mais importante: Avaddhuta Gita


Os 24 Gurus de Dattatreya

Dattatreya era absolutamente livre de intolerância ou preconceitos de qualquer tipo.
Ele aprendia a sabedoria de qualquer fonte que viesse.
Todos os que buscam a sabedoria devem seguir o exemplo de Dattaterya.

Uma certa vez o rei Yadu avistou Dattaterya que estava caminhando alegremente pela floresta. Ao ver tamanha felicidade, Yadu perguntou a Dattatreya o nome de seu Guru. Dattatreya por sua vez disse a Yadu: Somente Atma (o absoluto) é meu Guru, porém obtive a sabedoria de 24 mestres, logo estes são o meus Gurus.

1.        Meu primeiro mestre foi a Terra. Com ela eu aprendi ter paciência, ser amoroso e a gostar de todas as pessoas, pois ela suporta cada ofensa que o homem comete em sua superfície e mesmo assim, lhe faz o bem ao produzir os frutos e grãos. Enquanto mantiver este ponto de vista, o feito das pessoas me parecerá normal.
Prithivi - Terra
2.        Meu segundo mestre foi à Água. Ela limpa e purifica tudo o que toca, e sacia a sede de todos que dela bebem. Para se manter pura, a água deve correr livremente. A água me ensinou que minha energia não deve ficar estagnada e por isso devo me manter em constante movimento.
Apas - Água
3.        Meu terceiro mestre foi o Fogo. Tudo o que o fogo queima é transformado em luz e calor. Observando o fogo me lembro de absorver tudo o que a vida me apresenta e a transformá-la em chamas de sabedoria. Esta chama ilumina minha vida que resplandece com os esplendores de meus conhecimentos e pode aquecer aqueles que estão próximos a mim.
Agni - Fogo
 4.        Meu quarto mestre foi o Ar. O ar está sempre se movendo através de vários objetos, mas ele nunca se apega a nenhum deles. O vento que o ar provoca acaricia as flores e os espinhos da mesma maneira. Com o ar eu aprendi a não ter apego, a não discriminar ninguém e levar frescor a todos.
Vayu - Ar
5.        Meu quinto mestre foi o Espaço. O espaço permeia o sol, a lua, as estrelas e apesar de tudo estar contido no espaço,ele permanece ilimitado. Com ele eu aprendi a abarcar tudo sem me afetar e que todas as coisas visíveis e invisíveis tem o seu devido lugar, mas não tem o poder de confinar a minha existência.
Akasha - Espaço
 6.        Meu sexto mestre foi a Lua. A lua é em si mesma completa, mas parece crescer ou minguar, de acordo com a sombra da terra, que varia, por sobre ela, mas a sua essência permanece intocada. Enquanto eu observo a lua, aprendo que dor e o prazer, os ganhos e as perdas são simplesmente fases da vida, assim, enquanto eu passo por elas, devo permanecer consciente do meu verdadeiro Eu.
Chandra - Lua
7.        Meu sétimo mestre foi o Sol. O sol reflete em diversas superfícies de água, diferentes formas de reflexões, retira a água de todos os lugares, transforma-a em nuvem e a devolve em forma de chuva. Com o Sol, aprendi a absorver o conhecimento de todas as coisas, transformá-las em sabedoria e a compartilhá-los com todos.
Surya - Sol
8.        Meu oitavo mestre foi um Pavão. Aprisionado na rede de um caçador, o pavão gritou desesperado atraindo seus companheiros que procuraram resgatá-lo e também foram aprisionados. Com ele aprendi que toda e qualquer reação ligada ao apego e a emoção é uma armadilha. Sempre penso duas vezes antes de agir sob uma emoção superficial, especialmente se a ação nascer de uma identificação com o próprio grupo.
Mayura - Pavão
 9.        Meu nono mestre foi a Cobra. A cobra, contenta-se com a presa que captura e fica deitada por algum tempo sem procurar por mais comida. Com a cobra, aprendi a não me preocupar com comida, a me contentar com que tenho e a me aquietar quando satisfaço minhas necessidades sem correr atrás dos objetos de meus desejos.
piton
10.     Meu décimo mestre foi o Oceano. O oceano permanece imóvel mesmo que centenas de rios desemboquem nele. Com o oceano aprendi a permanecer imóvel entre os diversos tipos de tentações, dificuldades e problemas.
oceano
11.     Meu décimo primeiro mestre foi a Mariposa. A mariposa, sendo atraída pelo brilho da chama, voa de sua morada para seu sacrifício na luz. Com ela, aprendi que uma vez que vejo a aurora, mesmo sendo um pequeno clarão à distância, devo superar meu medo e deslocar com toda a determinação em direção ao fogo consumidor que irá tornar-se conhecimento e iluminar minha mente.
mariposa
12.     Meu décimo segundo mestre foi a Mamangava. Antes de pegar a menor quantidade de néctar, ela zumbe, faz volteios e dança criando uma atmosfera de alegria. Ela dá muito mais do que recebe, porque como agente da polinização assegura que haverá flores na estação vindoura. Com ela, aprendi que devo apanhar somente um pouco da natureza e a ficar contente e satisfeito, enriquecendo em vez de destruir aquilo que me sustenta.
mamangava - abelhão
13.     Meu décimo terceiro mestre foi a Abelha. As abelhas coletam o néctar arduamente de diferentes flores para transformá-lo em mel e armazena-o em favos que são compartilhados com outras espécies. Com ela aprendi que devo colecionar os ensinamentos de cada disciplina e processos de conhecimento que recebo e aplicá-los para poder crescer e não acumular nada, compartilhando tudo o que sei com os outros.
abelhas trabalhando
14.     Meu décimo quarto mestre foi um Elefante Macho Selvagem. O caçador de elefantes levou uma fêmea, no cio, a uma floresta. O elefante sentiu-se fortemente atraído, e em sua busca pela fêmea, caiu dentro de uma armadilha coberta por folhas.Ele foi então capturado, acorrentado, torturado e domesticado pelo caçador. Encantos mundanos e sensações sensoriais estimulam os sentido e quando corremos atrás de prazeres sexuais, a mente é aprisionada e escravizada. Com o elefante aprendi a controlar minhas paixões e meus desejos.
elefante
15.     Meu décimo quinto mestre foi o Cervo. O cervo tem o sentido da audição apurado e responde ao som instantaneamente, discriminando-o quando o som lhe parece inofensivo, porém é seduzido, hipnotizado pelo som de flauta do caçador e capturado. Com ele aprendi que também mantemos os ouvidos aguçados e somos cépticos com algumas coisas que ouvimos, mas às vezes ficamos fascinados por certas palavras que nos atraem porque aguçam nossos desejos e apegos, essa peculiaridade cria tanto sofrimento para nós quanto para os outros.
cervo
16.     Meu décimo sexto mestre foi o Peixe. Assim como o peixe é cobiçado pela comida e é vítima fácil de uma isca, o homem que é ganancioso por comida, e permite que seu sentido da gustação o domine, perde sua independência e é facilmente arruinado. Com o peixe aprendi a ter discernimento ao me alimentar.
peixe
17.     Meu décimo sétimo mestre foi uma Cortesã chamada Pingala na cidade de Videha que não amava, nem era amada por nenhum de seus clientes além de não se sentir satisfeita com o dinheiro que recebia.Uma noite, cansada e sem esperanças, decidiu permanecer contentada com o que tinha e dormiu suavemente. Eu aprendi desta mulher caída, a viver com dignidade e autorrespeito, que o melhor lugar para eu encontrar o amor e a minha própria satisfação é dentro mim mesmo, que não devo esperar nada deste mundo e que às vezes, o abandono de esperanças nos leva ao contentamento.
Pingala, a cortesã
18.     Meu décimo oitavo mestre foi um Corvo. O Corvo pegou um pedaço de carniça, foi perseguido e surrado por outros pássaros que também queriam aquele pedaço. Ele deixou o pedaço de carniça cair e então obteve paz e descanso. Disso, aprendi que quando corremos atrás da satisfação dos nossos sentidos, passamos por todos os tipos de problemas e desgraças, e que o segredo da sobrevivência está na renuncia e não na posse.
corvo
19.     Meu décimo nono mestre foi o Bebê que com saúde, só chora até que consiga sugar o leite materno, é livre de todas as preocupações, ansiedades e está sempre alegre. Com ele aprendi estar sempre satisfeito e exigir somente o que realmente necessito.
20.     Meu vigésimo mestre foi uma Jovem Donzela. Os pais dessa jovem, saíram em busca de um pretendente apropriado para ela. A garota estava sozinha em casa. Durante a ausência dos pais, uma comitiva de pessoas foi até a casa com o mesmo propósito. Ela mesma recebeu a comitiva. Ela foi para dentro para debulhar o arroz com casca e alimentar a comitiva. Enquanto ela estava debulhando,seus braceletes tilintaram um ruído estridente. E sábia garota então refletiu: "A comitiva irá perceber, pelo barulho dos braceletes, que eu estou debulhando o arroz sozinha e que minha família é muito pobre para contratar outros para ter o trabalho feito." Então ela tirou um por um dos braceletes, somente quando restou um em cada mão é que houve o silêncio e então ela prosseguiu o debulhar. Eu aprendi da experiência desta garota que onde houver uma multidão, haverá ruídos que podem gerar discórdias, perturbações, conflitos ou brigas. A Paz só advém na solidão.

21.     Meu vigésimo primeiro mestre foi a Serpente. Uma serpente não constrói o seu buraco. Ela habita os buracos que outras criaturas abandonaram ou se enrola em buracos de árvores por algum tempo e depois se muda. Com ela aprendi a ajustar o meu meio ambiente e a usufruir o que a natureza me oferece sem construir uma morada permanente. Enquanto flutuo no fluxo da natureza encontro vários lugares para descansar e uma vez recuperado, prossigo meu caminho em paz.
cobra ihoa
22.     Meu vigésimo segundo mestre foi um Artesão que estava totalmente focado em afiar e planar uma flecha. Enquanto ele estava engajado neste trabalho, um rei passou em frente ao seu estabelecimento com toda sua comitiva. Após algum tempo, um homem veio até o artesão e perguntou-lhe se o rei havia passado por sua loja e o artesão respondeu que não havia percebido nada. O fato era que o a mente do artesão estava unicamente absorta em seu trabalho e então ele não notou a passagem do rei em frente a sua loja. Eu aprendi deste artesão à qualidade da intensa concentração da mente e que devo me concentrar na obra que estou executando no momento, seja ela grande ou pequena. Quanto mais dirigida a minha atenção, maior a minha absorção e quanto maior esta for, mais profundo conseguirei compreender o objetivo da existência.

23.     Meu vigésimo terceiro mestre foi a Aranha. A aranha produz de sua boca longos fios que tece em uma teia e ela mesma acaba presa na teia que teceu. Com isso observei que o homem constrói uma teia de suas próprias idéias e fica emaranhado nelas. A verdadeira segurança não está nas complicadas formas de ação, mas na absorção única no presente.
24.     Meu vigésimo quarto mestre foi um pequeno Verme que uma ave canora pegou e levou para o ninho. Antes de saborear o verme, a ave começou a cantar, o verme encantou-se pela melodia e esqueceu-se do perigo. Se este pequeno verme, pode, ser transportado por um canto e ultrapassar o curso do tempo pela melodia, eu também desenvolverei a arte de poder me deixar absorver no Nada ouvindo o som divino que está dentro de mim.
 
Dattatreya dizia que o mundo era um ashram, 
que os ensinamentos estão por toda à parte. 
Podemos aprender sempre qualquer coisa que contemplamos, 
ou de qualquer pessoa que cruze o nosso caminho, 
contanto que tenhamos desenvolvido um agudo interesse pelo saber, 
com forte determinação para apreender o que for útil e 
ignorar o desnecessário para nossa evolução espiritual.

O Rei Yadu ficou imensamente impressionado pelos ensinamentos de Dattaterya,
abandonou o mundo e praticou constante meditação no Ser.

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