02 dezembro 2023

Setubandhasana

Postura da Ponte
setu - ponte, limite, ligação, marco
bandha - confinamento, grilhão, atadura, ligação, consequência
setubandha - ponte de Rama

Ponte é uma construção que interliga dois pontos não acessíveis separados por algum obstáculo. A ponte simbolicamente cria uma passagem de transposição de lugar, tempo, pessoas, ideias, sentimentos entre outros.


É comum que pontes sejam sustentadas por arcos. Neste asana, a coluna é o arco que sustenta a ponte de Shakti para Shiva, onde a grande estrada (mahapatha) é perpassada pela kundalini. O asana fortalece as estruturas para que a ponte esteja pronta para o grande tráfico da Maha Shakti.


É uma postura “extrovertida”, pois abre a parte frontal do corpo, que é o lado voltado para o nascer do sol (purvottana) O asana induz a execução do mulabandha (contração da raiz) e o jalandhara bandha (chave de pescoço), ou seja, estimula os muladhara e vishudha chakra.


Setubandhasana prepara para as posturas invertidas sobre os ombros (viparitakarani e sarvangasana). Como inverte as posições dos chakras juntamente com a execução natural do mulabandha, as impurezas de apanavayu são conduzidas para incineração no manipura chakra. O jalandhara bandha  também acontece espontaneamente, impedindo o desperdício do amrita.  Produzindo uma purificação e o aumento da vitalidade.

Rama Deva, heroi do Ramayama
Setubandha remete a ponte mítica construída pelo exército do príncipe Rama para resgatar sua princesa Sita, como relata a epopeia Ramayana. Sita havia sido sequestrada no subcontinente indiano e levada refém para a ilha do atual Sri Lanka.
setubandha em construção
 

O príncipe Rama ajudado por um exercito de macacos para libertar a princesa precisam transpor o oceano para alcançar o cativeiro na ilha. Primeiramente Rama tenta com diversas armas secar o oceano, sem sucesso. Durante uma meditação Varuna deva, orienta Rama a procurar o engenheiro Nala e seu irmão Nila para construir uma ponte para invadir a ilha e resgatar a princesa. O exercito de macacos  constroem a ponte jogando pedras no oceano e o resgate é um sucesso.

exercito de macacos na construção da ponte

Há uma curiosidade sobre essa ponte mítica, hoje chamada de ponte de Rama (ou de Adão), pois realmente há uma conexão natural subaquática entre a Índia e o Sri Lanka, o estreito de Palk. O estreito possui entre 53 a 80 km de extensão e é formado por uma cadeia de bancos de areia acima do nível do mar.

estreito de Palk

23 agosto 2023

Ardha Navasana

meia postura do barco, mas vou chamar de postura da canoa
ardha – meio
nava – barco
de Flávia Venturoli Miranda



O ardha navasana é uma preparação para o navasana, uma versão aparentemente mais leve que a segunda. Em um jogo de palavras, ao invés de chamar de meia postura do barco, chamo de postura da canoa, inclusive pela a semelhança ao meio de transporte. A canoa é menor e ancestral, e evolui para barco e navio.
 
Ardha navasana é um asana com pouca elevação do chão, o que deixa a “embarcação” mais rasa e longa, como uma canoa que rasga um rio. No navasana, fecha-se o anglo do tronco com as pernas, deixando a “embarcação” mais imponente e alta para enfrentar ondas e mares revoltos. Saiba mais aqui.

Na postura da canoa, a lombar e as nádegas ficam apoiadas no solo, os braços fletidos com as mãos na nuca e as pernas pouco elevadas. Faz-se com trabalho abdominal, sem sobrecarregar a coluna lombar. Por isso é indicada como preparação para dominar o navasana, cujo foco do fortalecimento abdominal cobra muito da lombar. Para partir do shavasana para executar o navasana requer potência inicial, mas a permanência no equilíbrio é tranquila.
 
Na variação da postura da Canoa Ubá, também ao rés do chão, erguidos são o tórax, os braços (colados nas orelhas acima da cabeça) e as pernas esticadas (apenas a uns 20cm do chão). O que desenha claramente uma canoa caiçara que é uma embarcação estreita, rasa e leve, cujas ambas as extremidades são ainda mais delgadas. Ubá (em tupi antigo) é feita em uma única peça, em que um grande tronco é esculpido. Dessa forma, ubá é uma embarcação resistente e de longa duração.
Essas características listam objetivos que se conquistam com o domínio da postura da Canoa Ubá. Aqui se trabalha fortemente com os músculos abdominais supra e infra, já que os braços erguidos e as pernas esticadas próximas ao chão servem de contrapeso, e exigem mais força do centro do corpo. Quando executado com frequência a postura da Canoa Ubá, deixa o “tronco esculpido”, o corpo torna-se mais esguio, leve e ágil. No ardha navasana, não requer potência para iniciar, mas exige resistência para permanecer, sendo mais forte do que na postura do barco.

Fonte
aulas de Bhola Nath Yogi

Fonte Histórica
naukasana segundo a Encyclopaedia of Tradicional Asanas – Dr. M. L. Gharote – Lonavla é citado no Kapala Kurantaka Hahtabhyasa Paddhati 11.


09 julho 2023

Por que a Lua crescente coroa Shiva?

 Flavia Venturoli Miranda


Deus Shiva

Chandra Deva – Deus Lua casou-se com 27 (nakshatras - constelações) filhas de Daksha Prajapati, mas era realmente encantado e dedicado a apenas uma, Rohini. Suas outras esposas reclamaram ao pai do favoritismo do marido, que amaldiçoou Chandra com uma doença fatal e incurável que faria seu belo corpo brilhante desaparecer rapidamente. O declínio do deus Lua foi tão grande que quase não era mais visível, isso provocou um grande desequilíbrio na natureza e trouxe sofrimentos aos seres vivos.

Rohini Nakshatra Aldebaran -
estrela gigante vermelha que fica na constelação de Touro.

Chandra pediu ajuda ao deus Brahma, pai de Daksha. Brahma lamentou não poder ajudar porque sabia que seu filho não lhe daria ouvidos, contudo o orientou a pedir ajuda ao deus Shiva. Para alcançar as benções de Shiva, Chandra Deva executou o ritual do Maha Mritunjaya por muito tempo. Shiva surgiu quando só havia restado uma pequena parte do deus Lua, praticamente apenas um fino arco era visível. Shiva ajudou na recuperação tratando com a erva Soma, que tornava Chandra novamente radiante e a natureza retomava ao seu equilíbrio. Mas essa maldição era infindável e por muito tempo era necessário refazer regularmente o tratamento com a erva.

Chandra Deva - Deus Lua

Já que a maldição de Daksha não poderia ser retirada, Shiva apresentou uma solução definitiva ao Chandra. A cada quinzena Chandra viveria o castigo do sogro, minguaria até sumir do céu. Contudo se Chandra aceitasse refúgio nos cachos do cabelo do deus Shiva, lhe seria garantido, que após minguar, o deus Lua teria uma quinzena de cheia até voltar a ficar pleno e radiante no céu porque teria o Soma suficiente que precisava.

 

fases da lua

Assim, Shiva que é também o deus do tempo, Kala, passou a controlar as minguantes e as cheias da Lua e ganhou o adereço no cabelo. Chandrashekhar – que tem a lua no topo da cabeça. Chandramauli – coroa de Lua. Já Chandra voltou a dar atenção igualitária as 27 esposas.

 

Veja também: ardhachandrasana - postura da lua crescente