02 novembro 2010

Céu e Terra

por Flávia Venturoli de Miranda

Dyaus 

 

Dyaus - Céu
               Dyaus [ ] é o céu, em todas as suas 3 facetas, o céu cósmico, que é o próprio cosmos, o céu paradisiaco, morada dos deuses e o céu atmosférico. Significa brilhante, dia, diário, é o deus do céu brilhante. 

Dyaus - Deus Céu
               Nos Vedas é o céu pai, chamado de Dyaus Pita ou Pitr [pitA ou pitRRi]. Casa-se com a terra, Prithivi, com tem as filhas auroras, Ushas [uSas], também, o fogo Agni [ ] (RV 3.25.1), e, o clima da atmosfera, Indra [ ] (RV 4.14.4).

Ushas - Aurora filha do Céu

Agni - Fogo filho do Céu

Indra - Senhor do Clima filho do Céu
               No Purusha Sukta diz que Dyaus nasceu da cabeça do próprio Homém Cósmico, Purusha [puruSa]. As vezes dizem que Dyaus e Prithivi foram criados por Indra, assim ele é suplantado por um deus mais novo, e cai no esquecimento, tornando-se um deus otiosus, como dira Mircea Eliade. Indra assumi então seus atributos.

Prithivi


Prithivi - Terra

               Prithivi [pRRithivI] tem uma vida simbólica longa. Prithivi, que significa amplidão, é a deusa Terra, casada com o Dyaus. Ela é a mãe Terra Prithivi Mata ou Matr [mAtA ou mAtRRi]. Nos Vedas aparece sempre em companhia do marido, Dyavaprithivi [dyAvApRRithivI], o Céu fertiliza a Terra através da chuva que frutifica. Segundo Kinsley, nos Vedas, eles eram apenas um, que foram separados por Varuna, mas que voltaram a se unir pela chuva. Como seu marido, a Terra tem 3 níveis, a terra onde pisamos, a Terra planeta, e o interior da terra. No Purusha Sukta, bhumi [bhUmi], um outro nome para o chão terra (ou prithivi bhumi), surgiu dos pés do Homém Cósmico. 


Prithivi - Deusa Terra
 
               Nos Vedas, Prithivi é a mãe de Ushas, Agni e Indra.

Ushas - Aurora filha de Prithivi
Agni - Fogo filho de Prithivi
Indra - Atmosfera filho de Prithivi
               Posteriormente, no Visnhu Purana [viSNu puraNa], dizem que Prithivi recebeu seu nome de seu pai Prithu [pRRithu], que ao ver a fome no mundo, criou uma vaca chamada Prithivi que proveria a todos com frutos constantemente, até mesmo aos deuses.

               A Terra, como deusa, é fértil e benigna, é a mãe que cuida e nutri suas crias com grão, leite e vida. Protege e é firme, traz prosperidade, consolida e sustenta a todos. 

Prithivi Tattva - Muladhara Chakra
                Prithivi posteriormente será associada ao elemento terra, prithivi tattva da filosofia Samkhya [sAMkhya], com toda a conotacação de firmeza, solidez, prosperidade e fecundidade. Interiormente, esse tattva se assenta em nosso assento, no muladhara chakra [mUlAdhAra cakra] dando a estabilidade e prosperidade de uma barra de ouro interior. Seu yantra [ ] é justamente um cubo dourado como ouro.

Prithivi Tattva Yantra
 
Bibliografia
CAMPBELL, Joseph, As Mascaras de Deus – Mitologia Primitiva. 8º ed, São Paulo: Palas Athena, 2010.
ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano: a Essência das Religiões. 2ª ed, São Paulo: Martins Fontes, 2008.
KINSLEY, David R. Hindu Goddesses – Visions of the Divine Femine in the Hindu Religious Tradition. Berkley: University of California Press, 1998
BULLEN, Matthew, e et. National Geographic: Guia Visual da Mitologia no Mundo. São Paulo, Ed. Abril, 2010
WILKINS W.J, Hindu Mythology, Vedic and Puranic, 1900, at sacred-texts.com, in 05/10/2010
WILLIAMS Monier, Sankrit-English Dictionary, digital V1.5 beta

22 outubro 2010

Noite e Dia


por Flávia Venturoli de Miranda

Varuna

10.000 galáxias nessa pequena porção da escuridão cósmica

                  Varuna [varuNa] significa o encobridor do céu. É um dos deuses mais antigos da Índia, é o deus noite, escuridão, é o caos primordial, que antecede a tudo. Por isso é o rei dos deuses, dos mundos e dos homens, é o sustentáculo do céu da terra. Pertence a classe dos seres escuros, asuras. O Rta Sukta [RRita sUkta] conta que a ordem cósmica e a verdade se originaram da noite através do tapas e dali surgiram os oceanos e os anos etc. Assim podemos inferir que Varuna, como o regente da noite primordial, é a raiz da ordem cósmica, rta.

 

                Curiosamente é também cultuado no zoroastrismo como Ahura Mazda.
                      Ahura Mazda

               Varuna une-se com Mitra, a deusa dia, também responsável pela ordem cósmica.

Varuna montado em Makara.
               Indra toma seu trono de rei dos deuses. Varuna passa a reinar sobre os oceanos celestiais, as águas insondáveis e profundas das origens, e o classificam como um dos aditya-s [Aditya]. As vezes também é citado como um daitya [ ], quando reina sobre os gandharva-s [ ]. Nessa fase como governante do oceano cósmico, em algumas iconografias, tem como montaria Makara [mAkara], um monstro marinho, traduzido normalmente como um crocodilo. Também como deus do oceano é pai de lótus, Pushkara [puSkara].

Pushkara - lótus azul filha de Varuna
 

Mitra

 



                Mitra [mitrA] significa companhia, amigo, amizade. É a deusa dia, que traz ordem, rta, ao caos primordial. Mitra chama os homens para a atividade e deixa os olhos vigilantes. Forma um casal com Varuna, a escuridão e juntos governam rta.

Por ordenar os mundos também sustenta o céu e a terra como seu marido. É uma apsara [Apsara] é chamada de Chitra [citrA], que significa brilhante, distinta, multicolor.

               Como deus, Mitra [ ], é um dos adityas, é o deus dia protetor da ordem, parceiro de Varuna. Curiosamente, esse deus é visto em várias religiões, no zoroastrismo, Mithra. Depois durante as campanhas militares romanas, é importado para Roma, como deus Sol, e acaba por ser incorporado no panteão romano, numa religião de mistérios chamada mitraísmo

Mitra - romano

Mais tarde virá a mitra papal católica, um diadema que simboliza aquele que defende terrivelmente a verdade. Pode-se dizer que é um deus que não saiu de moda, já que sua energia, brilho, disposição de ordenar é uma necessidade inerente a todos, sempre.   

Mitra Papal


Bibliografia
Rta Sukta - Rig Veda 10.190.1 e 2 [RRita sUkta – RRig veda]
CAMPBELL, Joseph, As Mascaras de Deus – Mitologia Primitiva. 8º ed, São Paulo: Palas Athena, 2010.
ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano: a Essência das Religiões. 2ª ed, São Paulo: Martins Fontes, 2008.
KINSLEY, David R. Hindu Goddesses – Visions of the Divine Femine in the Hindu Religious Tradition. Berkley: University of California Press, 1998
BULLEN, Matthew, e et. National Geographic: Guia Visual da Mitologia no Mundo. São Paulo, Ed. Abril, 2010
WILKINS W.J, Hindu Mythology, Vedic and Puranic, 1900, at sacred-texts.com, in 05/10/2010
WILLIAMS Monier, Sankrit-English Dictionary, digital V1.5 beta

19 outubro 2010

Natarajasana

Postura do Dançarino Real
nata [naTa] - dançarino
raja [rAja] – real, do rei
por  FláviaVenturoli de Miranda
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Nataraja [natarAja] é um epíteto de Shiva como transformador. Conta a lenda que numa floresta moravam sábios que haviam se perdidos em seus egos. Os deuses resolveram dar-lhes uma lição. Assim, Vishnu [viSNu] disfarçado de uma bela mulher, Mohini [mohinI], apareceu diante deles acompanhada com Shiva. Os homens, tomados de desejos, lutaram violentamente entre si pela atenção da moça. Disputavam para tirá-la de Shiva

Mohini entre os sábios
Os sábios através de magia criaram um monstruoso tigre para atacar o rival Shiva. O tigre ao atacá-lo, foi resumido a uma pele, pois Shiva com unha do seu dedo minguinho o esfolou e usou seu couro como veste. Os sábios, revoltados com a aquela derrota, criaram uma serpente monstruosa, que Shiva com naturalidade colocou no seu pescoço como um colar e começou a dançar. Por fim, os sábios mandaram um anão para atacar Shiva que o dominou, simplesmente, pisando em suas costas sem cessar sua dança frenética, tandava [tANDava]. 


Shiva Nataraja
Em uma outra lenda, ao saber da morte de sua esposa, Sati [satI], por imolação na pira sacrificial de seu sogro. Shiva ficou tão furioso que começou a dançar freneticamente, tandava, para que o mundo fosse destruído e um novo mundo mais correto recomeçasse. 

O simbolismo da postura é da transformação interna, através domínio sobre a pequenez do ego ignorante pela superioridade da sabedoria essencial.

Variações:

Essa postura tem inúmeras variações. Das mais simples, quando em vez de pegar o pé com a mão, apenas se eleva um pouco para trás a perna do chão, enquanto um braço fica erguido e o outro relaxado (ou até mesmo com os 2 braços erguidos). Há a versão muito complexa, como demonstrada por Iyengar no Light on Yoga, em que o pé da perna erguida toca a cabeça.

Com relação ao tronco, há quem faça a postura no prumo e outros preferem inclinar o tronco até que fique paralelo ao chão. Há a opção também de elevar a cabeça e olhar o teto, o que sempre aumenta o grau de dificuldade do equilíbrio,

De qualquer modo a postura, além de belíssima esteticamente, trabalha a extensão da coluna, o alongamento do psoas e da musculatura frontal da coxa, e a abertura do tórax. Nela treinamos “dançar conforme a música” sem perde o  equilíbrio.

Fonte:
Light on Yoga – Iyengar
Encyclopaedia of Traditional Asanas – Dr. Gharote - Lonavla
Fonte histórica:
Yoga Rahasya I.51 de Nathamuni - KYM