18 agosto 2024

Ashtanga Yoga - Oito Partes do Yoga

de Flavia Venturoli Miranda

yama – regras de convivência
niyama – regras de autocontrole
asana – assentamento
pranayama – controle da vitalidade
pratyahara – contenção dos sentidos
dharana – concentração
dhyana – meditação
samadhi – igual a si

 As oito partes do yoga são em duas camadas externas e internas. A primeira, externa, é da lida do mundo: como regrar a vida de convivência com os outros e consigo, como se assentar, como controlar a energia da vida e como introverter os sentidos. A segunda camada, a interna, é o cerne do trabalho do yoga com o controle da mente: trazendo de uma mente desfocada, para centrada e para, em fim, fundir a mente no objeto escolhido. Eliminando a intermediação do corpo/mente com a percepção direta da “alma”.

28 abril 2024

Simhasana

de Flavia Venturoli Miranda

postura do leão
simha - leão

Leão é um símbolo de força e realeza, em muitas culturas. No Dicionário Sânscrito Monier Williams diz que  simhasana significa o assento do leão, ou do rei, ou seja, o trono. 

Simhasana é um dos 4 asanas mais importantes para a Hatha Pradipika (siddhasana, padmasana, bhadrasana e simhasana). A postura clássica é descrita na HP I.52 a 54 assim:

"Coloque os tornozelos abaixo do escroto, o tornozelo direito para a direita e o esquerdo para o lado esquerdo. Coloque as palmas das mãos sobre os joelhos com os dedos abertos, os olhos fixos na ponta do nariz e com a boca aberta. Isto é simhasana, celebrado de grande estima pelos mais avançados yogis. Este asana facilita os três bandhas"


É interessante notar a descrição detalhada da concentração na ponta do nariz, dedos abertos (que se assemelham a garras) e boca aberta (possivelmente por se parecer com um leão rugindo). Outro ponto é a ênfase dada que esse asana facilita a execução dos 3 bandhas, assim sua importância se eleva por se auxiliar nas mudras.

A postura é montada como um leão focado e rugindo de garras prontas para o ataque. Ao executar esse asana. A exalação contundente é feita pela boca colocando a língua para fora e ressoando como um rugido, para alguns autores contemporâneos, isso é a simha mudra.  

Há diversas posições das pernas para  executar o simhasana. Há variações como a descrição na Hatha Pradipika: tornozelos cruzados sobre o períneo. Ou em vajrasanaou em sukhasana, ou em mandukasana, ou ainda a descrita por Iyengar em padmasana. Todas com a versão de língua para fora, embora haja descrições em que apenas se abra bem a boca.


Outras variações ficam por conta da colocação das palmas no chão ou nos joelhos com os dedos  afastados virados para frente, ou com as palmas das mãos no chão, dedos virados para trás e os joelhos sobre o dorso das mãos. Há ainda variações de nasagra drshti e bhrumadhya drshti segundo o Swami Kuvalayananda.

 
 Segundo o natha nepalês, Bhola Nath Yogi, se faz simhasana de quatro (chatushpadasna) e se ruge como um leão realmente. Isso traz o vigor de um leão para o praticante.

Simha é um dos signos astrológico, associado com o astro rei, o sol. Leão é o veículo da deusa guerreira Durga. O 4º avatara de Vishnu desce na forma furiosa de Narasimha, ½ homem ½ leão, para salvar seu devoto o demônio Prahlada. Aqui temos algumas indicações simbólicas de leão como poderoso, forte, soberano.

Enfim, a postura reproduz a imagem de um leão com as garras abertas, rugindo, pronto para o ataque, numa demonstração de soberania e poder. Ao praticá-la, há uma descarga emocional pelo "rugido", que tanto relaxa, como prepara para um eventual ataque. Ótima prática para liberar as tensões, descongestionar as expressões faciais e trazer foco para tomar decisões importantes.

Fonte:

Light on Yoga – B. K. S. Iyengar
Asanas – Swami Kuvalayananda – Cultrix
Yoga Terapia – Nilda Fernandes
yoganarasimhasana – Vinyasa Yoga – Srivatsa Ramaswami – Marlowe
Notas de aula com Bhola Nath Yogi

Fonte histórica:

Hatha Pradipika I.52 a 54
Hatha Ratnavali III.30 e 31
Gheranda Samhita II.14 e 15

13 fevereiro 2024

Asato Ma

 tradução de Flávia Venturoli de Miranda

do Brihadaranyaka Upanishad 1.3.28

asato ma sad gamaya

tamaso ma jyotish gamaya

mrtyo ma amrtam gamaya

 

Guia-me do irreal para o real.

Guia-me da escuridão para luz.

Guia-me da morte para imortalidade.

20 janeiro 2024

Kosha

 Envoltório

São cinco os koshas:

  1. ananda maya kosha - envoltorio constituido de felicidade pura 
  2. vijnana maya kosha - envoltorio constituido de inteligência
  3. manas maya kosha - envoltorio constituido de pensamento
  4. prana maya kosha - envoltorio constituido de energia vital
  5. anna maya kosha - envoltório constituido de alimento

viparita karani asana ou mudra?

por Flavia Venturoli Miranda
20/01/2024

Para abordar a inversão da posição do corpo nos asanas, tenho que começar com uma mudraViparita Karani Mudra, selo da ação invertida, é uma das mudras que acabou virando asana provocando uma confusão com essa sua situação no legado do Hatha Yoga atual.
 
Então, primeiro explico resumidamente as principais ferramentas* do Hatha Yoga:
Asanakumbhaka (pranayama), mudra, samyama (dharana, dhyana e samadhi).
Com os asanas se alcança o fortalecimento do corpo. Com os pranayamas se tem a leveza que advém da purificação das nadis e do início da jornada da kundalini. Com as mudras vem o equilíbrio entre os vários koshas pela selagem de algumas nadis para conduzir o prana através de ações rituais que convidam a kundalini a ascender. Finalmente, a parte principal de todo o yoga que é a meditação, com suas 3 etapas de concentração, meditação e fusão.  Assim, o Hatha conduz ao Yoga Supremo.
 
O Hatha refina e apura o corpo com seus vários envoltórios (koshas) através da alquimia de suas práticas para que o adepto esteja preparado ao chegar ao cume dessa jornada que é a meditação. Yoga é a desalienação e desidentificação com a matéria para a fusão de si em si mesmo. Nem é possível resumir o hatha e tão pouco o yoga, por isso fico por aqui mesmo, nesse momento.

Voltando as posturas invertidas. Aqui temos uma distinção clara de objetivos do asana como fortalecimento do corpo e da mudra como equilíbrio para invocação da energia suprema. Assim, se a famosa viparita karani é executada como asana, seu objetivo maior como mudra é neglicenciado. Contudo ainda sim é importante praticar o viparita karani asana, porque é um preparo para a prática da mudra. Como asana, se atem aos detalhes físicos do preparo e execução, do posicionamento dos membros, da sustentação com atenção e sem tensão na permanência, e da respiração tranquila.


Viparita karani mudra é a ação de inverter a posição do sol residente na região do umbigo com da lua na raiz do palato. A lua exsuda a ambrosia da imortalidade, amrta. O sol consome tudo que recebe. Assim, constantemente, o fogo gástrico devora a ambrosia que cai do palato, consumindo a existência. Na inversão, o umbigo fica em cima e o palato em baixo, ou seja, o sol fica para cima e a lua para abaixo, o fogo gástrico continua ascendente, mas não mais consome a ambrosia que está abaixo e ela secreta para o topo da cabeça apenas, prolongando a existência e a transformação alquímica por esse néctar.
 
Então, lembre-se que se sua pratica de viparita karani já atingiu os estados de estabilidade – sthira e de conforto - sukha, produzidos pelo fortalecimento, já é chegada a hora de praticar a mudra e começar a convidar a kundalini.
 
Ao se por em viparita karani, por algum tempo focalize no sol e deixe o fogo gástrico queimar as impurezas da região abdominal. Depois, por algum tempo a mais, foque na lua e sinta o sereno lunar inundar sua cabeça de néctar. Deixe que essa seja sua “meditação” nesse dia.
 
Tenha uma vida longa e próspera.
 
* Essas ferramentas variam entre os diversos textos antigos, mas resumidamente é isso.