22 de outubro de 2010

Noite e Dia


por Flávia Venturoli de Miranda

Varuna

10.000 galáxias nessa pequena porção da escuridão cósmica

                  Varuna [varuNa] significa o encobridor do céu. É um dos deuses mais antigos da Índia, é o deus noite, escuridão, é o caos primordial, que antecede a tudo. Por isso é o rei dos deuses, dos mundos e dos homens, é o sustentáculo do céu da terra. Pertence a classe dos seres escuros, asuras. O Rta Sukta [RRita sUkta] conta que a ordem cósmica e a verdade se originaram da noite através do tapas e dali surgiram os oceanos e os anos etc. Assim podemos inferir que Varuna, como o regente da noite primordial, é a raiz da ordem cósmica, rta.

 

                Curiosamente é também cultuado no zoroastrismo como Ahura Mazda.
                      Ahura Mazda

               Varuna une-se com Mitra, a deusa dia, também responsável pela ordem cósmica.

Varuna montado em Makara.
               Indra toma seu trono de rei dos deuses. Varuna passa a reinar sobre os oceanos celestiais, as águas insondáveis e profundas das origens, e o classificam como um dos aditya-s [Aditya]. As vezes também é citado como um daitya [ ], quando reina sobre os gandharva-s [ ]. Nessa fase como governante do oceano cósmico, em algumas iconografias, tem como montaria Makara [mAkara], um monstro marinho, traduzido normalmente como um crocodilo. Também como deus do oceano é pai de lótus, Pushkara [puSkara].

Pushkara - lótus azul filha de Varuna
 

Mitra

 



                Mitra [mitrA] significa companhia, amigo, amizade. É a deusa dia, que traz ordem, rta, ao caos primordial. Mitra chama os homens para a atividade e deixa os olhos vigilantes. Forma um casal com Varuna, a escuridão e juntos governam rta.

Por ordenar os mundos também sustenta o céu e a terra como seu marido. É uma apsara [Apsara] é chamada de Chitra [citrA], que significa brilhante, distinta, multicolor.

               Como deus, Mitra [ ], é um dos adityas, é o deus dia protetor da ordem, parceiro de Varuna. Curiosamente, esse deus é visto em várias religiões, no zoroastrismo, Mithra. Depois durante as campanhas militares romanas, é importado para Roma, como deus Sol, e acaba por ser incorporado no panteão romano, numa religião de mistérios chamada mitraísmo

Mitra - romano

Mais tarde virá a mitra papal católica, um diadema que simboliza aquele que defende terrivelmente a verdade. Pode-se dizer que é um deus que não saiu de moda, já que sua energia, brilho, disposição de ordenar é uma necessidade inerente a todos, sempre.   

Mitra Papal


Bibliografia
Rta Sukta - Rig Veda 10.190.1 e 2 [RRita sUkta – RRig veda]
CAMPBELL, Joseph, As Mascaras de Deus – Mitologia Primitiva. 8º ed, São Paulo: Palas Athena, 2010.
ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano: a Essência das Religiões. 2ª ed, São Paulo: Martins Fontes, 2008.
KINSLEY, David R. Hindu Goddesses – Visions of the Divine Femine in the Hindu Religious Tradition. Berkley: University of California Press, 1998
BULLEN, Matthew, e et. National Geographic: Guia Visual da Mitologia no Mundo. São Paulo, Ed. Abril, 2010
WILKINS W.J, Hindu Mythology, Vedic and Puranic, 1900, at sacred-texts.com, in 05/10/2010
WILLIAMS Monier, Sankrit-English Dictionary, digital V1.5 beta