18 de setembro de 2010

Hinduísmo e Filosofias da Índia - Palestra



 O que é o Hinduísmo? Quais são suas religiões? Quais são suas filosofias?
    
     Vamos conhecer um pouco da vasta cultura indiana. As origens do Hinduísmo e suas religiões. O Hinduísmo monoteísta e politeísta.
     Quem é Brahman, quem são Vishnu, Shiva, Lakshmi, Kali. O que é o Om? Como se inserem no contesto indiano os conceitos de karma, dharma, moksha.
     As principais filosofias da Índia. A filosofia e a prática filosófica. A relação do Yoga e a religião. Quais as visões indianas dos chakras, asanas, meditação, mantras e mandalas.
     Durante cerca de 3 horas, vamos conversar, conhecer e esclarecer sobre a Índia suas filosofias e religiões.

Local:
Núcleo SaberSer – Terapias e Estudos da Consciência
Rua Dona Eponina Afonseca, 130 – Chác. Sto. Antônio

Data:
Sábado, 16 de outubro de 2010
15 horas

Palestrante:
Flávia Venturoli de Miranda
Começou a dar aulas de Yoga em 1992. É formada pelo Curso de Formação de Professores de Yoga do Centro de Estudos de Yoga Narayana, onde leciona atualmente em diversas disciplinas filosóficas e práticas.
Recebeu o título de Kushalanayakah (Professor Competente) e o certificado do Curso de Especialização em Yoga pelo Colegiado de Yoga do Brasil Dharmaparishad, do qual foi vice-presidente e onde lecionou vários textos clássicos de Yoga.
Participou de cursos de Yoga com a família Desikachar e workshops com Master Ji Viswanatha e Fatherji Joe Pereira.
Em 2006, abriu no Ipiranga sua escola Mahavidya Yoga.
É pesquisadora de textos clássicos e das deusas indianas sobre as quais dá palestras. Escreveu alguns livretos e fez a tradução do Shiva Samhita no livro "A Escola dos Nathas e as Origens do Hatha Yoga" da Tantrayana Editora e de outros textos ainda não publicados.
É papeleira e leciona no Ateliê Oficina FWM de Artes.


7 de setembro de 2010

Yantra e o Espaço Sagrado



por Flávia Venturoli de Miranda

‘A profunda nostalgia do homem religioso
é habitar ummundo divino”,
ter uma casa semelhante à “casa dos deuses”...’[i]


Shri Yantra

Yantra [ ] é um tema complexo pela variedade de maneiras e situações em que é usado. Há quem diga que yantra é formado por
yam = segurar, reter (como em yama = conter-se) +
tra = proteger, instrumento
Gosto de traduzir como
Yantra é a maquininha que contém a mente e a protege.
Yantra-s são instrumentos, aparatos, máquinas, engenhos de meditação, culto, proteção, magia, alquimia e tecnologia. Podem ser desenhos, símbolos, diagramas, cosmogramas (de devoção, que representam uma divindade), dispositivos, objetos (de alquimia, amuletos), instrumentos (cirúrgicos), máquinas (maquina voadora, robô) e construções (templos).

Execução do Yantra
Yantra Númerico
Yantra Vidhimadhyayam - Instrumentos Cirúrgicos
Shri Hanuman Yantra
Templo Shri Yantra 
O yantra atua no mundo das formas {rUpa} e tem sua contrapartida nominal {nAma} como mantra. O yantra é a representação visual do mantra e o mantra vivifica o yantra. O mundo é a manifestação da divindade, Brahman Saguna [brahman saguNa]. Assim como se diz da luz, que é tanto onda como partícula, essa manifestação assume um nome e uma forma. O par nama/rupa é recorrente no tantrismo.


Nama surge da manifestação do Absoluto, Brahman Nirguna [brahman nirguNa], primeiramente como vibração primordial {spanda}, que, quando tangível, é percebida como Om, o pranava [praNava].

ouça B.K. Iyengar entoando o
pranava - OM

Desse som primordial deriva todos os sons, que formam palavras, que são percebidas como coisas, que recebem nomes que as identificam.

Om e todas letras sânscritas
Rupa, por sua vez, surge da manifestação do Absoluto, Brahman Nirguna, primeiramente como uma marca virtual {bindu avyakta}, que quando tangível, é percebido como ponto {bindu vyakta}.
Brahman como ponto
Dessa marca virtual deriva tudo o que tem forma, que é percebido como objeto, que recebe nome que os identifica. Em outras palavras, tudo o que tem nome, tem forma, isto é, na forma contém seu próprio nome e propósito {artha}. Assim a significação mental divinaforma aos nomes, e nomeia as formas manifestadas. Com o nomes e formas, o mundo é criado.

Yantra + Mantra de Katyayani
para o amor entre casais
Assim o par mantra/yantra faz parte de muitos rituais místicos, religiosos e simbólicos mundo a fora. Do profano ao sagrado, o som e a forma, andam juntos, interagem, se completam e se destroem.

Há a grafia musical (com notas, ritmos, escalas),

Projeto Beethoven - Transposição Sinfônica IX
de Walter Miranda,
há os pontos e cantos do candomblé,

Oxalá - ponto riscado
Oxalá - canto
há outros símbolos religiosos:

Judaíco

Islmânico
Crescente Islâmico
nama + rupa
Allah-Allah-Allah, Sufi chant (Zikhr) by Oruç Güvenç & Tümata

Cristão
Cruz de Cristo
Kyrie Eleyson, Maronite-Christian chant by Sarband & Osnabrücker Jugendchor
como a Cruz, que está associada com a imagem de Cristo e ao Pai Nosso

há as ciências com demonstrações gráficas das ondas de luz e de sons,

Luz é Dual, é onda e é particula.
ou mesmo a demonstração física de formas criadas por um líquido ou pó sobre um alto-falante com diferentes sons (veja vídeo),

ressonâncias capazes de destruir uma ponte,

Ponte de Tacoma
destruida pela ressonância com o vento


há ultrassons que permitem observar órgão internos e fetos (veja vídeo).

Para nós, ocidentais, os mantras são mais conhecidos, porém a sabedoria dos yantra-s, como ferramenta de autoconhecimento, é praticamente ignorada. O que há, é o conhecimento estético das mandalas [maNDala] 

Bunny Mandala
e suas aplicações terapêuticas na psicologia, graças ao Jung (verdade dita seja). Porém mandalas são apenas uma parte do universo dos yantra-s.


Simbolismo da Mandala
Carl Jung
Nos yantra-s usa-se a energia da forma para a contemplação, meditação, proteção e aplicação. Cada forma invoca uma energia específica que produz uma reação na mente do observador. Brincamos de desenhar yantra-s e mandalas, mas a realidade é que para essa energia criativa fórmulas prescritas de execução e contemplação. Além do que, todos os tipos de expressões formais e dimensionais podem ser aplicados nos yantra-s. Tentarei explicar em textos futuros os vários tipos de yantra-s.
Mahavidya Yantra
Antes de escrever sobre os vários tipos de yantra-s e aplicações, alguns conceitos de espaço sagrado são importantes para o entendimento da simbologia dos yantra-s, e para desfrutarmelhor dessa sabedoria.

Espaço Sagrado
O espaço sacralizado é o lugar do rito, do mito, do mundo conhecido, de segurança, de um grupo e do indivíduo. Para Eliade [ii], há uma ruptura no espaço (e no tempo) quando se entra no domínio do sagrado. A mesma terra que pisamos, quando consagrada muda sua dimensão simbólica e qualitativa, por agregar o poder do divino (do mito). Por isso, mesmo um pequeno lugar sagrado (diminuto até) pode representar todo um universo, em suas várias dimensões. O espaço sagrado traz ordem ao caos, orienta, norteia, dá direção e sentido.
Oratório
obra de Walter Miranda
O Centro
O que antecede ao surgimento do mundo (mitológico ou real) é o obscuro, o desconhecido, a água insondável primordial, as trevas, o inominável e amorfo.  A instalação do sagrado no espaço organiza o caos e seu centro estabelece orientação. No espaço sagrado, o centro é a fundação do mundo. Uma frase do Mircea Eliade que gosto muito é: ‘“Nosso mundo” situa-se sempre no centro [iii], em outras palavras o espaço sagrado é o nosso domínio.
planta de Stonehenge
O centro é o vínculo, na terra, do início da manifestação divina. Esse local de criação divina é absoluto, fixado como referência do centro do mundo sagrado para a periferia profana. É a singularidade de onde a complexidade deriva. Assim, o centro é o primeiro elemento importante na geometria sagrada. O centro sagrado num espaço plano é o ponto. O ponto sagrado toma  forma de pedra, grão, lugar, ovo, semente. Quando a sacralização passa ao espaço corpóreo, o ponto é o umbigo, o coração, o chakra [cakra], marma [ ], sthana [ ], granthi [ ] etc.


Corpo é o Templo
O Eixo
Quando o centro do sagrado passa a ter 2 pontos, formando um linha, essa ligação cria o eixo central. O eixo conecta a terra com o céu, axis mundi [1]. Através do eixo se estabelece a comunicação com a divindade, é o fio condutor das súplicas e de recebimento das dádivas, além de também sustentar e alicerçar o Céu (a morada divina).
O eixo sagrado toma forma de fio, pilar, poste, árvore, montanha, escada, etc. o eixo corpóreo por excelência é a coluna vertebral e, no plano sutil, a sushumna nadi [suSumnA nADI].
O Centro Expandido, o Plano
O centro é a forte fonte do poder divino que ao expandir se multiplica, deriva, varia, diversifica, porém perde potência. O axis mundi irradia seu poder em todas as direções e estabelece uma área sagrada, constituindo objetos, seres, corpos, terrenos, templos, casas, cidades, países, mundos, submundos, cosmo. O imago mundi [2] é tanto o macro como o microcosmo. O universo é o macrocosmo, mas relativamente também é o país, a cidade, o templo. O microcosmo é o próprio corpo, mas também o é o grupo familiar, o clã, a comunidade.


Olho de Deus,
nome popular da nebulosa Helix
Às vezes, o centro expandido ganha contornos simbólicos bem definidos como o da árvore da vida, a vaca sagrada , o ovo dourado {hiraNyagarbha}, o homem cósmico {puruSa}, etc.

Óvulo como Hiranyagarbha
Deste modo, o cosmo se personifica e pode ser identificado em uma divindade: Jesus, Nossa Senhora, São Francisco, Zeus, Afrodite, Shiva, Vishnu, Hanuman, Kali [shiva, viSNu, hanuman, kAlI], etc.
Nascimento da Vênus, detalhe
Sandro Botticelli
Vida como Jogo Divino
Todos esses centros expandidos são os palcos onde a vida se dá. Somos o atman[3] [Atman] dentro do Paramatman [4] [paramAtman]. O cosmo é o grande jogo divino, mahalila [mahAlIlA], é [onde os desfrutes {bhoga} são vividos.  

Somos o atman, a centelha divina imóvel, no centro da roda do samsara [saMsAra], nos seus ciclos de nascimento-vida-morte-renascimento, de onde o yogi [yogI] busca libertar-se {mokSa}.


“É um yantra, que o devoto deve permitir que se revele á sua visão interior, para então concentra-se nele. Deve ser inspirado por seus aspectos significativos e perceber que estes desvelam a essência secreta, a verdade, a realidade esotérica da natureza do universo e do seu próprio ser.” Zimmer [iv]






[1] axis mundieixo do mundo
[2] imago mundimundo idealizado
[3] Atmanalma individual
[4] Paramatmanalma universal, Deus


Bibliografia
CRISTESCU, Horia e BOZARU, Dan. Introduction to Yantra, in http://sivasakti.net/articles/intro-yantra.html em 22/08/2010
MAGEE, Mike, tradução. Yantra and Pranapratishta, in  http://www.shivashakti.com/yantra.htm, em 22/08/2010

[i] ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano: a Essência das Religiões. 2ª ed, pg 61, São Paulo: Martins Fontes, 2008.
[ii] ibidem pg 26
[iii] ibidem pg 42
[iv] ZIMMER, Heinrich. Mitos e Símbolos na Arte e Civilização da Índia, 3ª reimpres, pg 161. Palas Athena, 2002.